LUÍS GUILHERME por João Carlos Callixto

25 Mar 1962 - "Allez-Allez"

Há nomes do panorama musical nacional que passam quase como cometas por ele, deixando poucas marcas especialmente quando se está mais desatento. Houve, aliás, casos de cantores e cantoras que foram bem conhecidos no seu tempo, com idas frequentes à rádio, mas que por alguma sucessão de azares não chegaram a gravar qualquer disco. O nome de hoje no “Gramofone”, Luís Guilherme, deixou felizmente marca na década de 1960, aquela em que a sua carreira despontou e em que o meio artístico português lhe deu visibilidade em espectáculos, na rádio, na TV e em disco.

Pai da apresentadora de televisão Teresa Guilherme, nascida em 1955 da sua união com a também cantora Lídia Ribeiro, só no início da década seguinte é que Luís Guilherme se estrearia em disco. Assinando contrato com a firma portuense Rádio Triunfo, através do seu selo Alvorada, é publicado assim em 1961 um EP onde encontramos precisamente este “Alllez-Allez” de hoje. Sucesso recente então na voz do argentino Alberto Cortez, o nosso cantor apresentava-a numa versão portuguesa não creditada – aliás, no disco nem mesmo o nome de Cortez é mencionado como autor, surgindo a então muito comum designação de “Direitos Reservados” em seu lugar. Com direcção de orquestra de Ferrer Trindade, esse primeiro disco trazia precisamente uma canção com música desse maestro (“Algarve Noiva do Sul”, com letra do actor Luís Horta), um original do também maestro Manuel Viegas (“Cantinho do Mundo”) e ainda uma canção com letra do próprio Luís Guilherme (“Luar de Haway”).

Segue-se uma pausa nas gravações e quando o cantor volta a surgir em disco é já através da editora catalã Belter, em 1966. Na altura, este selo publicava alguns cantores portugueses, como Madalena Iglésias, António Calvário ou Alberto Ribeiro, e Luís Guilherme fez assim parte desse lote. Logo em 1966, aí gravou um EP com “Avante” (versão da canção italiana “Mi Vedrai Tornare”), o original “Mais Uma!” (da dupla Artur Ribeiro e Artur Rebocho, autores de “Fado Rock” ou de “Vai ao Minho”), um novo original de Manuel Viegas (“Farrapo Humano”) e ainda uma versão em castelhano de “Splendour in the Grass”, de Jackie DeShannon, feita pelo próprio Luís Guilherme.

Logo no ano seguinte, em 1967, chega o segundo disco do cantor na Belter – que acabaria também por ser o último do seu percurso. Enquanto o primeiro creditava Adolfo Ventas como maestro director da gravação, este não ostenta qualquer nome, deixando a dúvida sobre se será o mesmo maestro espanhol ou o português Manuel Viegas a exercer essas funções aqui. Todo o disco, no entanto, é composto por canções nacionais, duas delas do próprio Manuel Viegas e as outros duas de Shegundo Galarza, neste caso com letras de António José. A primeira dessas canções, “Pelo Sim pelo Não”, tinha sido gravada pela primeira vez em 1966 pela jovem cantora Marizé, enquanto que “Pôr do Sol”, a outra canção da dupla António José e Shegundo Galarza, tinha sido gravada também nesse ano por Cecília Cardoso (madeirense e irmã do também cantor Gabriel Cardoso). Já as duas canções de Manuel Viegas eram originais e invocavam a geografia peninsular: “Vem Daí Comigo ao Douro” e “Balada a Espanha”, numa época em que os cantores dos dois países circulavam por Festivais organizados dos dois lados da fronteira.

Mas voltemos a 1962, com as imagens do programa TV Clube, então apresentado por Artur Agostinho – que aqui vemos a entrar em cena para logo depois se aperceber que ainda não tinha chegado a sua deixa. O acompanhamento instrumental é do Conjunto de Mário Simões, um dos mais populares agrupamentos de então e que já aqui passou por mais do que uma vez no “Gramofone” – inclusive, em nome próprio