LUIZ GOES por João Carlos Callixto

29 Dez 1969 - "Canção do Regresso"

A canção de Coimbra foi, em décadas diferentes, espaço essencial para a transformação da Música Portuguesa. Se nomes como Edmundo Bettencourt ou António Menano, entre outros, tinham já representado esse papel, a geração que despontou na década de 1950 e na qual se incluíram Fernando Machado Soares, José Afonso ou Luiz Goes voltou de novo a fazê-lo. Hoje, o “Gramofone” aponta os holofotes para este último, cantor e escritor de canções com percurso sólido na nossa Música desde 1953, quando tinha apenas 20 anos, e sobrinho de Armando Goes.

Uma das mais marcantes vozes de sempre da canção de Coimbra, Luiz Goes grava pela primeira vez para a firma portuense Rádio Triunfo, ao lado dos guitarristas António Brojo, António Portugal, Aurélio Reis e Mário de Castro. Em dois discos de 78 rotações, publicados em 1953, inclui duas composições suas: “Minha Barca” e “Soneto”. Prestes a terminar o cuso de Medicina, integra o Quinteto de Coimbra, mais uma vez liderado por António Portugal e contando desta vez com Jorge Godinho, Manuel Pepe e Levy Baptista. O álbum “Serenata de Coimbra”, gravado em Madrid e publicado pela Philips em 1957, torna-se um êxito internacional, com reedições ao longo das décadas seguintes e em diversos países. Aí encontramos de novo a vertente autoral de Luiz Goes, com "O Meu Desejo”, para além do “Fado do Estudante”, de Fernando Machado Soares, ou de guitarradas de António Portugal.

Pelas mesmas alturas, a firma Rádio Triunfo grava nova série de canções de Coimbra, que vêm a sair em três discos em 1958 com o título genérico “Fados e Guitarradas de Coimbra”. Com o mesmo acompanhamento instrumental do LP da Philips, Luiz Goes canta aqui três composições. Seria depois preciso esperar quase uma década para que o médico estomatologista e recém-regressado do Serviço Militar na Guiné se estreasse finalmente em álbum em nome próprio. Estávamos em 1967 e o título desse trabalho, publicado pela Valentim de Carvalho, dizia logo ao que vinha: “Coimbra de Ontem e de Hoje”. Sem fazer cortes abruptos com o passado, Luiz Goes inicia aqui na realidade um caminho de transformação dentro da canção coimbrã. João Bagão, João Gomes ou Carlos Paredes são alguns dos músicos que o acompanham nesse trabalho, onde encontramos canções como “Direcção”, “Sonhar Contigo ó Coimbra”, “Balada da Torre d’Anto” ou “Balada da Distância”.

Esta “Canção do Regresso” faz parte do segundo álbum de Luiz Goes, “Canções do Mar e da Vida”, de 1969. Com letra e música do próprio cantor, a equipa de músicos que o acompanha nesse trabalho é praticamente a mesma do álbum de estreia (agora sem Carlos Paredes). João Gomes, na guitarra, é também o músico que vemos ao lado de Luiz Goes nestas imagens vindas da última emissão do programa “Zip-Zip”, em Dezembro de 1969. Desse segundo disco, “Homem Só Meu Irmão” manteve-se até à actualidade como uma das composições do cantor a alcançar maior público. No álbum seguinte, “Canções de Amor e de Esperança” (1971), encontramos “É Preciso Acreditar”, “Canção para Quem Vier” ou “Cantiga para Quem Sonha”, sendo Leonel Neves (que Amália também cantou) autor da quase totalidade das letras.

O quarto e último álbum de Luiz Goes, “Canções para Quase Todos”, chegou apenas em 1983. Aos habituais colaboradores, tinham-se juntado já Durval Moreirinhas e António Andias, que aqui voltam a marcar presença. No Natal de 2002, mesmo a tempo de celebrar os 70 anos do cantor no ano seguinte, é publicada a integral das suas gravações, “Canções para Quem Vier - Integral 1952-2002”, num esforço editorial da Valentim de Carvalho que é bem raro entre nós e que permite assim conhecer de uma forma única todo o legado de Luiz Goes.