MÁRIO LAGINHA por João Carlos Callixto

24 Dez 1988 - "Medley de Canções de Natal"

Ainda em época de Natal, o “Gramofone” desta semana traz imagens pouco vistas desta quadra gravadas há 33 anos. O programa chamava-se precisamente "Uma Noite de Natal" e para o apresentar a RTP convidou o cantor João Maria Tudella, nome com uma carreira começada três décadas antes e cujo sucesso de “Kanimambo” ainda hoje ofusca quase todo o resto da obra maior e diversificada que nos deixou.

Mas a estrela neste momento é Mário Laginha, hoje dono de um percurso com mais de quarenta anos e um dos pianistas mais aclamados da Música Portuguesa. Nesta altura com 28 anos, e ainda com quase todas as páginas do seu percurso por escrever, a década quase completa de carreira que estava para trás era no entanto mais do que auspiciosa – a certeza do seu talento maior forjou-se precisamente nesses anos, em que a versatilidade do pianista o levava a navegar entre as águas do jazz e de outros géneros musicais, com destaque para o universo rico dos cantautores – tal como, mais recentemente, se aventurou na escrita de originais para fado ou no trabalho de 2019 ao lado de Camané, “Aqui Está-se Sossegado”.

Em 1980, foi ao lado de um dos cantautores revelados no programa da RTP “Zip-Zip”, José Barata Moura, que Mário Laginha se estreia em disco. Em “A Rumba da Bomba”, com direcção musical de Luís Pedro Faro, o nome do músico ainda não surgia na ficha técnica. Isso vem a acontecer pela primeira vez no ano seguinte, no single “Cava Dor”, segundo disco do cantautor Francisco Ceia. Aqui, com direcção musical de Eduardo Paes Mamede, surgem outros músicos da área do jazz, como Pedro Wallenstein ou Carlos Bechegas. “Máscara”, álbum de estreia do ex-membro do GAC-VL João Lóio, é o disco de 1982 onde encontramos Laginha, numa altura em que o seu trabalho ia cada vez mais dando nas vistas. Luís Cília, com “Contradições”, e Né Ladeiras, com “Sonho Azul”, são os discos onde participa em 1983, séndo este também o ano em que o Quinteto Maria João edita o seu primeiro álbum. Ao lado da cantora de jazz veio o músico a construir uma obra vasta e diversificada, que se prolongaria até este século.

Mário Laginha não deixou, no entanto, de continuar a estar ao lado de outros maiores, tais como Sérgio Godinho (em “Salão de Festas”, de 1984), Fausto (em “O Despertar dos Alquimistas”, de 1985) ou Paco Bandeira (em “Entre o Céu e o Inferno”, também de 1985), para além de voltar à obra de Luís Cília. No ano de 1988 destas imagens de hoje, Laginha gravara também o disco do Sexteto de Jazz de Lisboa, ao lado de outros músicos destacados da sua geração. Mais tarde, Bernardo Sassetti ou Pedro Burmester seriam outros dos parceiros na carreira deste pianista livre, que um dia 25 de Abril viu nascer.