PETRUS CASTRUS por João Carlos Callixto

10 Agosto 1975 - Programa “Bobi”, videoclip de “Mestre”

As imagens de hoje foram captadas em pleno Verão Quente de 1975, para um programa que conheceu apenas seis emissões e que se chamou “Bobi”. Com António Avelar de Pinho e Nuno Rodrigues, ambos da Banda do Casaco, como dois dos cérebros revolucionários, cada programa teve um convidado musical de maior destaque. Desta vez, a escolha recairia sobre os Petrus Castrus.

O grupo tinha sido formado no Verão de 1971, com os irmãos Pedro e José Castro, e nesta primeira fase constituem-se em quinteto com a entrada de Júlio Pereira (guitarra), de João Seixas (bateria) e de Rui Reis (teclados).

Com a edição de “Marasmo”, o primeiro EP dos Petrus Castrus, em Dezembro de 1971, ficava bem claro que este não era um rock qualquer. Se já antes grupos como o Quarteto 1111 ou a Filarmónica Fraude (de curta duração) tinham ousado levar as linguagens do género bem mais além, agora podia finalmente falar-se de rock progressivo em Portugal, cerca de dois anos depois do seu nascimento oficial.



Neste primeiro EP e no seguinte, “Tudo Isto, Tudo Mais”, os Petrus Castrus questionavam os tradicionais brandos costumes lusitanos, quer nas letras das canções quer nos arranjos musicais, e mostravam também que tanto os T. Rex como os Santana tinham cultores em Portugal.

Se os dois primeiros discos saem pela Valentim de Carvalho, o trabalho seguinte leva-os em finais de 1972 para a Sassetti. A nova editora, que então albergava Sérgio Godinho ou José Mário Branco, permite-lhes gravar o primeiro álbum, “Mestre”, no Strawberry Studio, instalado no mítico Castelo de Hérouville, em Pontoise, França.



Os primeiros álbuns de Godinho e de Branco tinham sido lá gravados, tal como “Cantigas do Maio”, de José Afonso, ou “Até ao Pescoço”, também o primeiro de José Jorge Letria. O ponto comum a todos eles é precisamente José Mário Branco, que encontramos como convidado no álbum dos Petrus Castrus na faixa “S.A.R.L.”.

Este poema de José Carlos Ary dos Santos, parcialmente reescrito pelo autor a pedido do grupo, foi um de vários textos de autores contemporâneos que os Petrus Castrus musicaram. Alexandre O’Neill, Sophia de Mello Breyner Andresen ou o brasileiro Manuel Bandeira foram outros casos, com incursões também à obra de Fernando Pessoa e ainda de Bocage.

Publicado em Dezembro de 1973, o disco seria logo retirado do mercado e apenas voltaria aos escaparates das discotecas algumas semanas depois. A canção “Mestre” é uma das poucas com letra e música dos irmãos Castro e mostra bem a verve crítica da sua obra.