PROGRAMA RISO & RITMO por João Carlos Callixto

28 Dezembro 1969 - Canção “Natal dos Simples”

No Natal de 1969, a RTP preparou uma emissão especial do programa “Riso & Ritmo”, alusiva à quadra natalícia. Infelizmente, esta viria a ficar tristemente marcada pela morte dias depois da gravação da cantora Mirene Cardinalli.

Com os actores Armando Cortez e Francisco Nicholson e com o músico Eugénio Pepe como membros da equipa residente, o “Riso & Ritmo” era um programa que tinha surgido em 1965. Precursor do “Zip-Zip”, combinava rábulas humorísticas e momentos musicais, trazendo uma lufada de ar fresco ao nosso panorama televisivo.



Tanto grupos de pop rock, como os Sheiks ou os Keepers, ou cantores ligeiros, como Tonicha ou Madalena Iglésias, ou ainda cantautores, como Vieira da Silva ou Ernesto César, participariam ao longo dos anos nas emissões do programa, que logo a partir de 1966 dera também lugar à criação de uma etiqueta discográfica com o mesmo nome. Nela seriam editados alguns destes nomes e muitos outros, num trabalho que continuaria para além do final do programa na RTP.

Na emissão que recordamos hoje aqui no “Gramofone”, estão em destaque quatro cantoras, todas elas com carreira em nome próprio. A canção que interpretam é “Natal dos Simples”, um original de José Afonso editado originalmente no 2º LP do cantautor, “Cantares do Andarilho”, de 1968, e que logo nesse ano de 1969 conheceria versões em disco pelos espanhóis Nuestro Pequeño Mundo e ainda pela cantora Rute, uma das quatro vozes solistas de hoje.



Nesta cantiga de janeiras que já se tornou um clássico do Natal português, a primeira a surgir é Mirene Cardinalli, que fora rainha da Rádio de Angola em 1966 e que a partir de 1967 tem uma fulgurante carreira musical na então metrópole. Por cá participa no Festival da Canção de 1968 e grava oito discos, onde deixou clara uma preocupação constante com o reportório, sem recear cantar novos compositores.

Mirene Cardinalli perderia a vida dias depois deste programa, num brutal acidente de viação na Recta do Cabo, onde morreram também o seu marido José Peixoto Matias e o então muito jovem cantor Carlos Belo, que se estreara meses antes. A tragédia viria aliás a atrasar a emissão do programa na RTP, que estava prevista para o dia seguinte ao acidente, 21 de Dezembro.



Outra das vozes na canção de hoje é a de Rute, que teve uma carreira musical bem curta: apenas entre 1969 e 1970. Tinha-se estreado precisamente no programa “Riso & Ritmo”, colhendo uma crítica positiva da temível pena de Mário Castrim. Publica então um EP, com originais de Braga Santos e de Eugénio Pepe, todos com letra de Francisco Nicholson, e neste mesmo Natal de 1969 faz incluir a sua versão de “Natal dos Simples” num single partilhado com Vieira da Silva. Meses depois, participa com o original “A Voz do Chão” no Festival da Canção de 1970, onde se classifica em 7º lugar.



Maria do Espírito Santo era a cantora aqui presente que tinha uma carreira já bem firmada. Entre o fado, a canção ligeira e a tradicional, o seu reportório era diverso e espelhava as orientações estéticas mais populares entre nós ao longo da década de 60. Em disco, contava já com vários trabalhos publicados, para editoras como a Rádio Triunfo, a Valentim de Carvalho ou a própria Riso & Ritmo.



A cantora algarvia Mafalda Sofia é a última voz a entrar nesta canção de hoje. A sua carreira tinha começado em 1965 e a imagem exótica que ostentava ficou logo patente também nas capas dos seus discos. Ao lado do maestro Manuel Viegas ou do Thilo’s Combo, de Thilo Krasmann, gravaria algumas das suas canções mais populares, tendo também sido premiada em palcos internacionais.