SWING E OS OSSOS por João Carlos Callixto

13 Jun 1993 - "Swing"

Em todas as épocas é importante saber unir os tempos: quem vive no passado fica a ele irremediavelmente preso; quem vive unicamente a olhar para o futuro ignora os desafios do quotidiano; e quem pensa que só o presente é importante acaba por na realidade desconhecer o mundo que o rodeia. De facto, apenas com uma visão atenta a estes três momentos-chave da nossa existência poderemos construir um mundo verdadeiramente rico e diversificado. Apesar da aparente deriva filosófica, este pensamento encaixa na perfeição no “Gramofone” de hoje. Estamos em 1993 e o grupo em destaque dava pelo nome de Swing e os Ossos. Será normal que hoje em dia poucos conheçam este projecto musical, já que o grupo durou de 1991 a este ano de 1993 e acabou por não deixar gravado nenhum disco, tendo apenas registado uma demo tape de circulação limitada.

O programa que aqui é recuperado chamava-se "Sons do Sol e era apresentado por Júlio Isidro. Entre outros momentos, tinha uma rubrica de “Lugar aos Novos” em que aspirantes a “estrelas” musicais mostravam os seus méritos e eram avaliados por um conjunto ecléctico de jurados. Nesta emissão, o painel era constituído pelos cantores Marco Paulo e Nucha e ainda pelo pelo conhecido chef Silva. Todos elogiaram, de forma diferente, a originalidade do grupo, que mostrava bem as suas afinidades musicais com o pop rock alternativo dos Happy Mondays ou dos Stone Roses.

Não tendo os Swing e os Ossos chegado mais longe, tiveram ainda assim alguns momentos de maior exposição – como fazer primeiras partes dos Sitiados, que entre 1991 e 1993 editaram os seus dois primeiros álbuns com enorme sucesso. À frente do grupo encontramos João Branco, com um percurso musical no Brasil, na década de 1980. Em 1994, fundaria os Hipnótica e, mais recentemente, os Beautify Junkyards – cujo mais recente álbum, “Cosmorama”, foi editado já em 2021 e tem recebido boas críticas na imprensa internacional.

Os restantes membros do grupo eram Jorge Jumba Jim (guitarra), nome artístico então usado por Jorge Humberto. O músico tinha passado pelos Ex-Votos, de Zé Leonel, e fundou já neste século os CityZens, com dois álbuns publicados. No baixo, está Tó Neto, que também integrara os Ex-Votos, e atrás da bateria encontramos António Watts. Este último estaria na fundação dos Hipnótica, que em 1998 se estreia em disco pela mão da etiqueta Deixe de Ser Duro de Ouvido – para em 1999 chegar o primeiro álbum, já pela NorteSul, da Valentim de Carvalho. Entre as referências electrónicas e um piscar de olhos cada vez mais intenso ao psicadelismo, seria precisamente após o fim dos Hipnótica e com a fundação dos Beautify Junkyards que João Branco Kyron e António Watts acentuariam essa sua visão da pop. O single de estreia, em 2012, com versões de Nick Drake e dos Mutantes foi o “farol”, logo depois confirmado em álbum em que ficavam patentes essas e outras influências. Em 2015, com “The Beast Shouted Love”, os originais da banda mostravam que tinham aprendido a lição de forma maior – o “swing”, afinal, era já bem próprio desde este momento de 1993.