TÓ NETO, por João Carlos Callixto

20 Mai 1985 - "Amadis"

Tó Neto é um dos pioneiros da música electrónica de feição pop entre nós, com um percurso em disco que se estendeu ao longo de três décadas e que o notabilizou desde a primeira hora. Vindo de Angola, estudou em Lisboa na Academia de Amadores de Música e no Hot Clube de Portugal, aliando esse lado mais “formal” a um trabalho autodidacta de pesquisa sonora com os teclados.

Em 1983, através da editora Sassetti, Tó Neto viu editado o seu álbum de estreia, “Láctea”. Sozinho, com gravação do Rui Novais no Angel Studio, o músico chama a si diversos teclados, entre sintetizadores e pianos, e aventura-se por várias paisagens sonoras, ora mais espaciais ora mais próximas da sua África natal - mas sempre com uma forte componente onírica. Para a produção, foi chamado Eduardo Paes Mamede, que na altura tentava criar um catálogo bastante ecléctico no seio da editora.

Ainda antes da edição do segundo trabalho, Tó Neto seria um dos nomes convidados a participar no álbum “O Despertar dos Alquimistas” (1985), de Fausto, entrando com os seus sintetizadores em “Delicadamente p'ra Ti”. Logo no ano seguinte, já na editora Discossete, é então publicado “Big Bang”, o segundo álbum do músico, que contou desta vez com o saxofone de Leonel Cardoso num disco que continuava a veia exploratória do primeiro registo. “Amadis”, a composição escolhida para este “Gramofone”, faz parte desse álbum e fazia parte da banda sonora da peça de teatro “Amadis de Gaula”. As imagens são do programa "Arroz Doce", de Júlio Isidro.

Em 1989, a edição do álbum "O Negro" marca uma inflexão maior para os sons da África natal de Tó Neto, uma das componentes sempre presentes no seu trabalho. Na década de 1990, “Angola” e “Planetário” conheceram já menor divulgação, mas o músico continuou sempre activo no Algarve e a publicar em disco até à sua morte prematura em 2013 - com "Néctar", do ano anterior, como último trabalho do músico.