VASCO RAFAEL por João Carlos Callixto

6 Dez 1979 - "Varinas"

A História do Fado tem muitos nomes que, no seu tempo, foram bastante conhecidos mas que, com a passagem dos anos, acabam por ser apenas lembrados em círculos mais restritos. Em algumas situações, é a morte prematura a razão desse aparente esquecimento e noutros é o abandono da carreira artística. Em vários casos, no entanto, acontece que a obra gravada em disco se encontra arredada do convívio do público, e será essa porventura a razão principal para que nomes com a dimensão do talento que hoje se recorda neste “Gramofone” sejam menos lembrados.

Vasco Rafael nasceu em Angola, onde começou a sua carreira musical muito novo. Em 1968, com apenas 19 anos, classifica-se em 2.º lugar no Festival da Canção de Luanda, com “Banquete Ruim da Vida" (letra de Brazão Gil e música do maestro Sílvio Pleno), que acabaria por não gravar. Dois anos depois, recebe o Prémio de Interpretação no mesmo certame, chegando o primeiro disco pouco antes do 25 de Abril. Publicado pelo selo N’Gola, da Valentim de Carvalho, traz as canções “Razão de Viver” e “Vem Caminhar Comigo”, sendo que esta última sela desde logo uma parceria com o poeta Vasco de Lima Couto que haveria de dar frutos ao longo do percurso de Vasco Rafael – no total, gravou mais de 25 letras do também actor. Já na então metrópole, a fadista Beatriz da Conceição ajuda-o na procura de lugares para cantar e chega assim um primeiro disco de fado: o EP “Vasco Rafael Canta Vasco de Lima Couto”, publicado pelo selo Estúdio, de Emílio Mateus, e para onde gravava então Beatriz da Conceição. O fado que abria o disco, “O Perdão Que Eu Peço a Toda a Gente”, tem música de António Chainho, cujo conjunto de guitarras acompanhava o cantor nesse registo.

Depois de gravar o fado “Que Povo É Este Que Povo?”, que em 1970 tinha sido interpretado por José Manuel Osório e por João Braga, Vasco Rafael assina com a editora Rádio Triunfo, do Porto, onde permanece até meados dos anos 80 e para onde grava a maior parte da sua obra. O álbum de estreia, no entanto, tinha sido publicado pela Polysom nesse mesmo ano de 1977 e trazia o primeiro momento em que cantava palavras de José Carlos Ary dos Santos, outro parceiro maior de Vasco Rafael. A canção em causa, “Às Mulheres do Meu País”, tinha sido já gravada por Beatriz da Conceição, em 1975.

Com letra da escritora Fernanda de Castro e música de Frei Hermano da Câmara, a canção de hoje aqui no “Gramofone” tinha sido antes gravada também por Carlos Barra e por Alice Maria. As imagens são do programa "O Que Eu Gostaria de Ter Sido", apresentado por Varela Silva, e que neste ano de 1979 em que as emissões da RTP eram ainda maioritariamente a preto e branco representou um raro momento a cores. Vasco Rafael teve ainda outros êxitos, como "Roseira Botão de Gente" (de Ary dos Santos e Paulo de Carvalho) ou "O Fado É Fixe", de Carlos Paião", e gravou originais de António Chainho, Nuno Nazareth Fernandes ou Paco Bandeira, tendo falecido prematuramente em 1998.