VICTOR ESPADINHA por João Carlos Callixto

5 Mar 1978 - “Canção Extraordinária”

Nem sempre quem chega ao mundo da canção é necessariamente um cantor de voz treinada ou naturalmente dotada para tal arte, sendo por vezes outras as características que permitem a uma voz destacar-se. Da área do teatro, vários são os exemplos de quem se chegou à frente também na música, usando as suas valências na arte de Talma para valorizar de forma diferente determinado reportório a que vozes formalmente mais belas nem pensariam chegar. E ainda bem que o fazem e fizeram, porque é por isso que nascem canções como a que está em destaque neste “Gramofone”: a “Canção Extraordinária”, que Tozé Brito escreveu para Victor Espadinha.

Actor, locutor e cantor, actualmente a caminho dos 83 anos, a vida de Victor Espadinha até 1974 desenrolou-se entre Lisboa, África e Londres. Com profissões mais ou menos mirabolantes, mas que lhe permitiram estudar Teatro e também exercer essa arte em Moçambique e em Lisboa, será depois do sucesso com “Mostra-me a Tua Piscina”, peça que esteve em cena no Teatro Capitólio, em Lisboa, que se estabelece definitivamente por cá. Novo êxito, desta vez com o programa da RTP “A Visita da Cornélia” (1977), leva então à gravação dos primeiros discos através da editora Phonogram. Na estrutura desta, Tozé Brito é o seu compositor de serviço e à estreia com “A Visita do Espadinha” segue-se o single com esta “Canção Extraordinária”. Publicado a tempo do Natal de 1977, traz no lado B “O Jogo da Vida”. O videoclip então filmado pela RTP mostra o actor e cantor numa loja de discos, enquanto que três das clientes do estabelecimento se deleitam quer com o que ouvem quer com os olhares de um Espadinha convertido em Don Juan.

Seria, no entanto, com o terceiro single que o sucesso chegou sem rodeios: “Recordar É Viver”, de 1978, que é ainda hoje o ex-libris do cantor. Pegando em ideias melódicas da canção “L’Été Indien”, de Joe Dassin, Tozé Brito e Rui Reis (autor dos arranjos) burilaram para Espadinha uma balada lânguida que quase nenhum casal de namorados da época dispensava. Este êxito trouxe novos discos nos anos seguintes – “Quero-te Tanto”, “A Nossa Canção” e “Carta a uma Mulher”, chegando o primeiro álbum de originais apenas em 1981, com “Aos 42”, que juntava uma série de composições de Gonsalves Preto, Joaquim Pessoa, Mike Sergeant, Pedro Osório, para além do próprio Tozé Brito. No ano anterior tinha saído a colectânea “10 – Um Disco de Sonho”, que trazia uma canção inédita – “Meu Rio Amigo de Janeiro”, com texto de Victor Espadinha.

Gravando ao longo de toda a década de 80, o cantor e actor tornou-se conhecido de um novo público através da sua participação na canção “Ouvi Dizer”, do segundo e último álbum dos Ornatos Violeta, “O Monstro Precisa de Amigos” (1999). Mais de vinte anos depois, Espadinha anuncia para 2022 o seu novo álbum, “Vivo como Nunca”, mostrando que felizmente a sua verve não se esgota.