Morreu John Glenn, herói da epopeia espacial

por RTP
Glenn era já o único elemento vivo da missão Mercury de 1962 NASA

Era uma referência da conquista espacial. Foi aviador, engenheiro, astronauta e chegou mesmo a ser senador. John Glenn, primeiro norte-americano a orbitar a Terra, em 1962, morreu na quinta-feira em Columbus, Ohio. Tinha 95 anos.

Glenn fora internado na semana passada no centro hospitalar da Universidade de Ohio. A causa da morte ainda não foi oficialmente anunciada. O astronauta deverá ser sepultado no Cemitério Nacional de Arlington, Virgínia.

"Tinha sempre as coisas certas a dizer. Inspirou gerações de cientistas, engenheiros e astronautas que nos irão levar a Marte e mais além", declarou Barack Obama. Nascido a 18 de julho de 1921 em Cambridge, no Estado do Ohio, John Herschel Glenn Jr. completou uma licenciatura em Engenharia Química na Muskingum College, ingressou no Corpo de Marines, foi eleito para o Senado.

Casou com Anna Margaret Castor, uma namorada de infância.

Glenn era já o único elemento vivo da missão Mercury de 1962.
Na órbita do planeta azul

A par de nomes como Orville Wright, Ediie Rickenbacker ou Neil Armstrong, John Glenn marcou a história da América dos anos 60, ao tornar-se o primeiro norte-americano a orbitar o planeta Terra.

O feito assinalou o momento em que os Estados Unidos conquistaram uma nova fronteira e alcançaram a União Soviética na corrida ao espaço.

Às 9h47 do dia 20 de fevereiro de 1962, Glenn, a bordo da cápsula espacial Frienship 7, integrada no foguete Atlas 6, circundou a Terra em cinco horas.

Lançada do Centro Espacial Kennedy, na Florida, a nave espacial alcançou uma altitude máxima de aproximadamente 162 milhas terrestres e uma velocidade orbital de 17.500 milhas por hora.



Este curto voo de três órbitas gerou um sentimento de patriotismo e vitória no seio da comunidade norte-americana.

Quando Glenn regressou ao solo em segurança, as dúvidas sobre o futuro dos Estados Unidos foram substituídas por um novo ímpeto de fé de que Washington poderia fazer frente ao expansionismo soviético durante a Guerra Fria.

O astronauta foi recebido pelo Presidente John F. Kennedy num desfile de condecoração, com bandas a tocar e pessoas em êxtase que aplaudiam o feito.
Uma viagem atribulada
A missão espacial de 1962 só se concretizou após dois meses de adiamentos por motivos mecânicos e condições adversas na atmosfera. “Conseguia ver pedaços do foguete, em chamas, a voarem pela janela. Calculei que o escudo de calor se estava a destruir. Foi um momento de medo. Mas sabia que se isso realmente acontecesse, tudo terminaria em breve e não haveria nada que pudesse ser feito para o evitar”, escreveu John Glenn, após o voo.

Glenn aguardava em média seis horas, adaptado à cápsula espacial, antes de os responsáveis da NASA cancelarem o lançamento.

À 11ª tentativa, o foguete da Atlas 6 descolou em direção ao espaço, a partir do Pad 14 de Cabo Canaveral.

Mas a viagem seria atribulada. Após a primeira órbita, um mecanismo de controlo automático falhou e John Glenn foi obrigado a pilotar a cápsula manualmente. Pouco tempo depois, uma luz que advertia para falhas técnicas sinalizou a perda do protetor térmico, criado para proteger a estrutura espacial e os tripulantes de uma descida infernal no regresso à Terra.

O sinal estava errado, mas ninguém o podia confirmar. Quando a Friendship 7 alcançou a atmosfera terrestre, uma das tiras de metal que preservavam o foguete acabou por se soltar.
O último voo
Tinha já 77 anos quando voltou a participar numa viagem espacial. No dia 29 de outubro de 1998, a missão da NASA STS-95 levou a bordo do vaivém Discovery os astronautas Curtis L. Brown, Steven W. Lindsey, Scott E. Parazynski, Stephen K. Robinson, Pedro Duque, Chiaki Mukai, e o veterano John H. Glenn.



A missão consistia num teste de resistência e comportamento em pessoas mais velhas no espaço.  Realizada com sucesso, durou dez dias.

João Fernandes, do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra, refere que sem elementos como Glenn e os Mercury 7 a conquista espacial não seria o que é hoje.

João Fernandes recorda ainda como este pioneiro quis voar até muito tarde.

O percurso de John Glenn foi distinguido por sucessivas condecorações, quer enquanto piloto de combate, quer como astronauta: a Medalha da Vitória da II Guerra Mundial, Asas de Astronauta da Marinha e diversas honras das instituições políticas dos Estados Unidos.

Recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, a Medalha de Ouro do Congresso e foi eleito para a Academia Americana de Artes e Ciências.

O centro de investigação da NASA em Cleveland foi recentemente rebatizado como Centro John H. Glenn.
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