Obesidade ultrapassa a magreza pela primeira vez em todo o mundo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Zhang Hangjun, de 20 anos, na província chinesa de Liaoning a 25 de julho de 2014, com 250 quilos de peso. Reuters

Cerca de 13 por cento da população mundial é agora obesa, revela um estudo coordenado pelo Imperial College de Londres em 186 países e publicado esta quinta-feira na revista Lancet. A comparação com dados de há 40 anos revela que, a cada década, homens e mulheres ganharam, em média, 1,5 Kg.

Em 1975, 105 milhões de pessoas eram consideradas obesas. Em 2014, esse número saltou para os 641 milhões. É necessário travar urgentemente esta “epidemia de obesidade severa”, afirma o estudo.

Além de concluir que a possibilidade de atingir as metas no combate à obesidade é agora igual a zero, o estudo indica que, se a tendência atual se mantiver, a obesidade irá afetar 18 por cento dos homens e 21 por cento das mulheres em 2025. A obesidade mórbida irá afetar mais de seis por cento dos homens e nove por cento das mulheres.

Apesar destas conclusões, o estudo sublinha que a magreza excessiva permanece um problema sério nas regiões mais pobres, especialmente no sul da Ásia.
Mais de 640 milhões de obesos
O estudo analisou 1.698 conjuntos de dados recolhidos em 186 de 200 países, desde 1975 até 2014 e abrangendo mais de 19 milhões de indivíduos adultos (9,9 milhões de homens e 9,3 milhões de mulheres) maiores de 18 anos.

A base do estudo, probabilístico, foi a evolução do Índice de Massa Corporal (IMC, que varia entre inferior a 18,5/m2 Kg – emaciação – e superior a 40 Kg/m2 – obesidade mórbida), por sexo e por região ou território, em 21 regiões de todo o mundo, organizadas geograficamente mas também em termos de rendimento nacional.

IMC Classificação
< 16 Magreza grave
16 a <17 Magreza moderada
17 a <18,5 Magreza leve
18,5 a <25 Saudável
25 a <30 Sobrepeso
30 a <35 Obesidade Grau I
35 a <40 Obesidade Grau II (severa)
>40 Obesidade Grau III (mórbida)

A exceção foi “uma região que inclui países de língua inglesa e de elevado rendimento, já que o IMC e outros fatores de risco cárdio-metabólicos têm tendências similares nestes países, que podem ser distintas de outros países na mesma região geográfica".

A análise demonstrou que o IMC aumentou, nos homens, de uma média de 21,7 Kg/m2 em 1975 para uma de 24,2 Kg/m2 em 2014. Nas mulheres, a progressão média foi de 22,1 Kg/m2 em 1975 para 24,4 Kg em 2014.

Isto revela que a população mundial ficou, em média, 1,5 Kg mais pesada em cada década, afirmam os investigadores. Atualmente, mais de um em cada dez homens e de uma em cada sete mulheres sofrem de obesidade.

O estudo revela ainda que, pela primeira vez, existem no mundo mais pessoas obesas do que de peso inferior ao normal, em termos de IMC.



“Nos últimos 40 anos, mudamos de um mundo em que a prevalência da magreza era mais do dobro do que a da obesidade, para outro, no qual mais pessoas são obesas do que demasiado magras”, disse o principal autor do estudo, o professor Majid Ezzati da Escola de Saúde Pública no Imperial College London.

“O número de pessoas em todo o mundo cujo peso é uma ameaça grave à sua saúde é maior do que nunca”, acrescenta.
Um mundo muito mais pesado
A tendência confirma-se também a nível regional.

O atual IMC masculino varia desde 21,4 Kg/m2 na África central e no sul da Ásia até aos 29,2 Kg na Polinésia e na Micronésia. Entre as mulheres o IMC mais baixo é de 21,8 Kg/m2 no sul da Ásia e os 32,2 Kg/m2 na Polinésia e na Micronésia.

Ao mesmo tempo, a prevalência de magreza excessiva desceu nestas quatro décadas, de 13,8 por cento para 8,8 por cento entre os homens e de 14,6 por cento pata 9,7 por cento entre as mulheres.

Inversamente, a obesidade cresceu de 3,2 por cento em 1975 para 10,8 por cento em 2014, entre os homens e de 6,4 por cento para 14,9 por cento entre as mulheres no mesmo período.



Atualmente 2,3 por cento dos homens e 5 por cento das mulheres são gravemente obesos (têm IMC superior a 35 Kg/m2). Globalmente, a obesidade mórbida afeta 0,64 por cento dos homens e 1,6 por cento das mulheres.



Quase um quinto dos adultos obesos vivem em seis países de rendimento elevado: Austrália, Canada, Irlanda, Nova Zelândia, Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

As nações de arquipélagos na Polinésia e na Micronésia têm o IMC mais elevado do mundo, enquanto Timor Leste, a Etiópia e a Eritreia têm o mais baixo.

A epidemia de obesidade não deve assim ser considerada um problema de saúde mais grave do que o da fome. No sul da Ásia, quase um quarto da população tem peso a menos. Na África central e do leste, cerca de 12 por cento das mulheres e 15 por cento dos homens sofrem de emaciação, refletida em altos índices de mortalidade e baixos índices de fertilidade.

Na Índia e no Bangladesh, mais de um quinto dos homens e um quarto das mulheres são demasiado magros, referem os analistas.
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