Ativista na cadeia lança "manual" para explicar pensamento político `revu` angolano

por Lusa

O ativista e investigador Nuno Dala, um dos 17 angolanos a cumprir pena por atos preparatórios para uma rebelião, lança este mês um "manual" para explicar o pensamento político dos jovens revolucionários.

Segundo informação prestada hoje à Lusa por Fernando Guelengue, também investigador universitário e promotor da publicação, o livro "O Pensamento Político dos Jovens Revús - Discurso e Ação", em edição de autor, será lançado a 27 de maio, em Lisboa.

Neste dia, a filha de Nuno Dala completa o primeiro aniversário, revertendo parte dos lucros da venda precisamente para apoiar a família do investigador, privado da liberdade desde junho de 2015, quando foi detido então juntamente com outros 14 ativistas que participavam em reuniões em Luanda para, na própria versão, discutir política.

"O livro resulta de uma pesquisa que ele estava a fazer desde 2014 até antes da data da detenção, para compreender o pensamento político, explicar qual o projeto de nação da Angola do futuro, dos jovens revolucionários, os ditos `revus`. Essa foi a preocupação dele para conseguir levar ao público este manual para compreensão dos membros e protestos do movimento revolucionário", explicou o investigador e amigo do autor.

A publicação, com 280 páginas e numa primeira fase 1.000 exemplares, está em pré-venda, por metade do preço (oito euros), até 26 de maio, antes do lançamento oficial em Lisboa, seguindo-se, esperam os promotores, a venda direta em Angola.

"O livro pode vir a transformar-se num manual de culto e no caminho ideal para uma melhor compreensão do desejo dos ativistas em relação à política do país e do mundo", insistiu Fernando Guelengue, numa alusão à contestação dos jovens `revus` angolanos à liderança de José Eduardo dos Santos, no poder em Angola desde 1979.

Nuno Dala foi condenado a 28 de março, pelo tribunal de Luanda, a uma pena de prisão efetiva de quatro anos e meio, por crimes de atos preparatórios para uma rebelião e associação de malfeitores. Os mesmos crimes imputados pelo tribunal a outros 16 ativistas, todos já a cumprir pena, apesar dos recursos interpostos pela defesa.

Em protesto contra o facto de não poder movimentar as contas bancárias, e com isso deixar sem meios de subsistência a família, o ativista e professor universitário promoveu entre março e abril uma greve de fome de 36 dias, tendo sido transferido para uma clínica privada de Luanda, para receber tratamento médico.

Na última sessão do julgamento destes ativistas - 15 privados de liberdade desde junho e duas a cumprir pena desde março - antes da leitura de sentença do tribunal, o Ministério Público deixou cair a acusação de atos preparatórios para um atentado ao Presidente e outros governantes, apresentando uma nova, de associação de malfeitores, sobre a qual os ativistas não chegaram a apresentar defesa, um dos argumentos dos recursos.

O tribunal deu como provado que os acusados formaram uma associação de malfeitores, pelas reuniões que realizaram em Luanda entre maio e junho de 2015 (quando foram detidos).

Num "plano" desenvolvido em coautoria, pretendiam - concluiu o tribunal - destituir os órgãos de soberania legitimamente eleitos, através de ações de "Raiva, Revolta e Revolução", colocando no poder elementos da sua "conveniência" e que integravam a lista para um "Governo de salvação nacional".

Os ativistas garantiram em tribunal que defendiam ações pacíficas e que faziam uso dos direitos constitucionais de reunião e de associação.

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