Espaço Aguncheiras estreia "Perdiz" a partir da peça radiofónica de Nuno Bragança

por Lusa

Azóia, Sesimbra, 29 ago (Lusa) -- A antestreia do filme "Perdiz", de Alberto Lopes, a partir da peça radiofónica de Nuno Bragança "A morte da perdiz", realiza-se hoje, às 21:00, na Cooperativa Aguncheiras, na Azóia, em Sesimbra.

A peça de Nuno Bragança, "A morte da perdiz", foi escrita propositadamente para rádio e foi gravada em Santana, no concelho de Sesimbra, a 11 de junho de 1956.

O ambiente dramático da peça é de "non sense" e desenrola-se num consultório de veterinário, tendo sido uma reação do autor a um texto publicado pelo então diretor do Diário de Notícias, Augusto Camacho, no qual salientava uma "determinada arte", chamando-lhe "minha viagem louca".

Esta contextualização é, aliás, dada pela primeira personagem que entra em cena, o "locutor", que foi interpretada pelo próprio Nuno Bragança, na gravação, com um sotaque exótico, como se revela na publicação do texto, em 2009, no quadro do relançamento da obra completa do autor, pelas Publicações Dom Quixote.

O texto desta edição foi a "transcrição da gravação" realizada em 1956. Anteriormente tinha sido publicado em 2000, na revista Colóquio/Letras, com apresentação e fixação de texto pelo poeta Pedro Tamen, que, na gravação original, interpretara o papel de "Doutor".

Os outros participantes da gravação foram Maria Leonor Bragança, como "enfermeira", Nuno Cardoso Peres, como "abexim" e "desconhecido".

O elenco do filme que é apresentado hoje em antestreia no espaço da cooperativa cultural das Aguncheiras, na Azóia, no cabo Espichel, são Alberto Lopes, João Paiva, Inês Lapa, Rui Pedro Cardoso e São José Lapa.

Na sessão serão lidos excertos de outros textos de Nuno Bragança.

Essencialmente um ficcionista, Nuno Bragança escreveu, além de "A noite e o riso" (1969), o primeiro romance, "Directa", editado em 1977, e "Square Tolstoi", de 1981, uma recolha de contos, "Estação", lançada em 1984, um ano antes da morte, e a novela "Do fim do mundo", publicada postumamente, em 1990.

Os primeiros textos do escritor datam da década de 1950 e incluem títulos como "Guardador de porcos", "Guliveira e os Liliputos", uma sátira a António de Oliveira Salazar, feita em colaboração com o professor e ensaísta M.S. Lourenço e o historiador Manuel de Lucena, e "A morte da perdiz".

Além da literatura, Nuno Bragança também tentou o cinema, uma vez como argumentista, em "Os verdes anos", de Paulo Rocha (1963), e outra, correalizando, com Gérard Castello-Lopes e Fernando Lopes, o filme "Nacionalidade: Português", estreado em 1973, que abordava a questão da emigração.

Nascido em Lisboa, a 12 de fevereiro de 1929, Nuno Bragança licenciou-se em Direito, especializou-se em problemas do emprego - foi fundador do antigo Serviço Nacional de Emprego (1965) - e fez parte da representação portuguesa na Organização de Desenvolvimento e Cooperação Económica (OCDE), até ao início da década de 1970.

Antifascista, católico progressista, desenvolveu atividade militante na clandestinidade, contra o regime de ditadura, e escreveu em várias publicações, nomeadamente na Vértice, na Seara Nova e em O Tempo e o Modo.

Morreu em 1985, quando apoiava a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo à Presidência da República.

A obra e a vida de Nuno Bragança dominam os documentários de João Pinto Nogueira "U omãi que dava pulus" (frase com origem na infância do autor, que se lê em "A noite e o riso") e "Outra forma de luta", sobre os últimos anos da ditadura e os primeiros após a revolução de Abril, a partir de um questionário deixado pelo escritor a Carlos Antunes, ex-dirigente das antigas Brigadas Revolucionárias.

NL (RMM) // MAG

Tópicos
pub