Movimento debate "perigos que espreitam a República" em jantar evocativo do 31 de Janeiro

por Lusa

Mira, 30 jan (Lusa) -- Dezenas de pessoas vão debater os "perigos que espreitam a República", na quinta-feira, em Mira, num jantar evocativo da revolta do 31 de Janeiro, promovido pelo Movimento Republicano 5 de Outubro (MR5O).

O encontro deverá promover a discussão dos valores republicanos, num momento em que se verificam "muitos ataques desaforados à República e aos valores republicanos", disse hoje à agência Lusa o historiador Amadeu Carvalho Homem, do Núcleo de Coimbra do MR5O.

A Revolta do Porto, que eclodiu na madrugada de 31 de janeiro de 1891, "foi a primeira tentativa político-militar de instauração da República" em Portugal, mas foi esmagada pelas forças monárquicas.

O jantar, às 20:00, no restaurante Tico-Tico, visa "cimentar laços de convergência ideológica e será dada a palavra a quem a pedir", adiantou Carvalho Homem.

Segundo o ex-professor da Universidade de Coimbra, a reunião permitirá "uma reflexão sobre a situação política, económica e social no Portugal de hoje", com políticas que "diminuem e subalternizam os valores" da República.

"Queremos debater os perigos eventuais que podem estar à espreita dos ideais republicanos", salientou.

A "igualdade dos cidadãos perante a lei", tal como outros valores consagrados pela revolução de 1910, tem sido posta em causa na sociedade portuguesa, designadamente nas áreas da justiça e da economia, considerou o historiador.

Portugal é o país da União Europeia "onde é maior a distância entre os que ganham menos e os que ganham mais", exemplificou, ao defender que "as pessoas deviam ser retribuídas condignamente" pelo trabalho.

"Saúde para todos, educação e laicismo" têm sido igualmente desvalorizados, segundo Carvalho Homem, um dos fundadores do MR5O.

Os mais de 60 convivas presentes na reunião, em Mira, "não se reveem" nas políticas do atual governo nestas áreas e exigem a reposição do feriado do 5 de Outubro.

Em junho, o MR5O decidiu intervir publicamente para que a implantação da República Portuguesa seja celebrada nesta data e "não noutra qualquer", criticando a abolição deste feriado.

Através de um "programa mínimo" então divulgado, o movimento anunciou o propósito de celebrar "as três datas da tradição democrática portuguesa": o 31 de Janeiro, o 25 de Abril e o 5 de Outubro.

Carvalho Homem criticou hoje a atitude do Governo perante "as diversas crenças e igrejas", que, na sua opinião, "não estão a ser tratadas de igual modo", com o executivo de Pedro Passos Coelho a conceder "privilégios de audição à Igreja Católica", como aconteceu no processo de eliminação de quatro feriados, dois religiosos e dois civis.

O major-general Augusto Monteiro Valente, falecido em setembro, e o presidente da Associação Ateísta Portuguesa, Carlos Esperança, são outros dos fundadores do MR5O.

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