Acabou o papel. O futuro do "Independent" é no digital

por Ana Sanlez - RTP
Teresa Dapp - EPA

O jornal britânico The Independent anunciou esta sexta-feira o fim da edição impressa. A publicação continuará a existir, mas apenas na internet.

É o ponto final numa história com 30 anos. A partir de 26 de março, as páginas do Independent desaparecem das bancas e passam a abrir apenas em www.independent.co.uk. O diário britânico torna-se o primeiro jornal do Reino Unido a apostar “num futuro exclusivamente digital”.

O anúncio foi feito esta sexta-feira no website da publicação, que é detida pelo grupo ESI Media desde 2010.

Os donos do Independent justificam a opção com a necessidade de assegurar “um futuro sustentável e rentável” para o jornal.

“A indústria da imprensa está a mudar e essa mudança está a ser conduzida pelos leitores. Eles estão a mostrar-nos que o futuro é no digital. A minha família comprou e investiu fortemente no Independent porque acreditamos num jornalismo de classe mundial e esta mudança assegura o futuro destes importantes valores editoriais”, declarou Evgeny Lebedev, dono do jornal, que classificou a decisão como uma “transição histórica”, numa carta enviada aos trabalhadores e publicada no Guardian.

A posição foi corroborada pelo CEO do grupo ESI Media, Steve Auckland: “A posição editorial única do Independent adequa-se perfeitamente à paisagem digital global”.
“Redundantes”
A mudança implica também o fim da edição de domingo, o Independent on Sunday, no dia 20 de março. Já o jornal i, uma publicação de baixo custo que faz parte do mesmo grupo, será vendido ao grupo Johnston Press, por cerca de 32 milhões de euros, segundo o Guardian.

Na carta enviada aos trabalhadores, Lebedev confirma que o fim da edição impressa do diário fundado em 1986 vai implicar um corte no número de trabalhadores, sem precisar quantos. Segundo o Guardian, cerca de 50 por cento dos 150 trabalhadores poderão ser considerados “redundantes”.

Ao mesmo tempo “um número significativo” de funcionários deverá transitar para a Johnston Press. O jornal promete ainda criar 25 novos postos de trabalho, ligados à produção de conteúdos, lançar uma nova aplicação móvel e abrir novas delegações na Europa, Médio Oriente e Ásia.

O website do Independent registou o crescimento mais rápido da imprensa britânica nos últimos três anos. A audiência mensal do jornal online cresceu 33,3 por cento no último ano, para cerca de 70 milhões de utilizadores únicos. Os donos da publicação esperam crescer mais 50 por cento só em 2016.

Na carta aos trabalhadores, Lebedev deixa ainda uma premonição: “Seremos o primeiro de muitos jornais de referência a abraçar um futuro exclusivamente digital”.
Outros casos
Antes do Independent, outros jornais internacionais decidiram transitar unicamente para o digital com vista à redução de custos.

Em fevereiro de 2012, foi para as bancas a última edição do espanhol Público, quatro anos depois da sua criação. A decisão foi justificada com “a profunda transformação” do sector e as dificuldades de financiamento.

Também no início de 2012, mas em França, os donos do La Tribune, fundado em 1985, decretaram "o virar de uma página na imprensa francesa", com o fim das edições em papel do jornal, que permanece como publicação digital.

Em 2013 os leitores da norte-americana Newsweek lamentaram o fim da edição impressa da revista semanal. Mas uma reviravolta, um ano depois, trouxe de volta a revista às bancas.

Já no início deste ano a revista para adultos Penthouse, que entrou em falência em 2013, anunciou que, ao fim de 50 anos, vai passar a existir apenas na internet.
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