Audição do Ministro das Finanças no Parlamento marcada por momentos de tensão com oposição

por Lusa

Lisboa, 18 jan (Lusa) - A audição do ministro das Finanças hoje no Parlamento sobre a Caixa Geral de Depósitos foi marcada por momentos de tensão com os deputados da oposição, PSD e CDS, a serem acusados pelo governante de faltas de educação.

Um dos primeiros momentos de tensão entre os deputados da oposição e o governante surgiu logo a seguir à primeira intervenção do PSD, protagonizada por Leitão Amaro, quando o ministro considerou que as afirmações do deputado mostravam ignorância sobre o sistema financeiro.

"Peço desculpa por dizer isto, mas não faz a menor ideia do que é um banco. Pôs palavras dramáticas no seu discurso como crise, decapitação, que mostram isso", afirmou Centeno, que por diversas vezes se mostrou incomodado com o ruído feito pelos deputados enquanto falava.

Já quase no final da audição, a troca de palavras voltou a subir de tom depois de um conjunto de questões de João Almeida, do CDS.

Quando o deputado questionou o ministro sobre quando mais precisamente iria ser aprovada a nova administração do banco público, liderada por Paulo Macedo, Centeno afirmou que, com certeza, o deputado "não quer que um ministro se comprometa com coisas com que não se pode comprometer".

Anteriormente o ministro tinha dito que a aprovação da equipa que será liderada por Paulo Macedo "está numa fase muito avançada e nos próximos dias o Conselho de Administração tomará posse".

Perante a agitação que se gerou na comissão parlamentar face à resposta de Centeno, o ministro solicitou à presidente da Comissão de Orçamento, Teresa Leal Coelho, condições para responder.

"Eu gostava que pudesse completar a resposta sem ruídos de fundo, porque é uma falta de educação falar quando as outras pessoas falam ", afirmou, e perante um suspiro da deputada do PSD Inês Domingues voltou a pedir para falar "se a senhora deputada permitir".

Este episódio motivou uma interpelação de Leitão Amaro à presidente para uma defesa de honra: "Má educação, amnésia seletiva, não sabem o que é um banco. Essa não é maneira de um membro do Governo falar com os eleitos de qualquer dos partidos sentados neste parlamento".

Também entre os deputados do PSD e do PS houve momentos mais agitados, como é exemplo quando o social-democrata Carlos Silva disse que foi "uma ilegalidade" a exceção do estatuto de gestor público dada à administração da CGD de António Domingues, levando o socialista João Galamba a insurgir-se e a dar um pequeno murro na mesa.

Nesta audição de mais de três horas, Mário Centeno admitiu que foi um "choque" o pedido de demissão da administração da Caixa Geral de Depósitos liderada por António Domingues, em dezembro, depois da polémica em torno da apresentação das declarações de rendimento e património, mas garantiu que o importante é que não foi posta em causa a recapitalização do banco que está a acontecer e que vai aumentar o capital do banco em 5.000 milhões de euros.

O ministro aproveitou para criticar a anterior gestão da CGD pelo Governo PSD/CDS-PP, de Passos Coelho, considerando que o plano de negócios definido então "não era realista" já que o banco tinha "capitalização insuficiente para sustentar as dificuldades daquele período".

Afirmou ainda que a CGD precisa de estar bem capitalizada - justificando o aumento de capital de cerca de 5.000 milhões de euros em curso - com a necessidade de o banco competir com pares europeus, uma vez que os mercados valorizam o capital para financiarem as instituições financeiras com menor custo.

O governante elogiou mesmo o plano definido pelo seu gabinete, considerando que é uma "capitalização credível" compatível com a "posição competitiva" do banco público e realçou que esse plano foi aprovado à primeira tentativa pelas instituições europeias, referindo que em casos passados no anterior Governo vários planos estratégicos de bancos foram constantemente `chumbados`, numa referência implícita ao Banif.

"Era impossível voltar a falhar. (...) Por isso propusemos para a administração da Caixa aquilo que consideramos a melhor solução, quer do ponto de vista do Conselho de Administração, quer do processo de capitalização, quer do plano de negócios. E o processo de capitalização e o plano de negócios foi aprovado à primeira num processo inédito", sublinhou.

Segundo Centeno, o rácio de solvabilidade exigido à CGD é de 10,75% dos capitais próprios e o objetivo é que em 2020 tenha 12,5%, o que significa uma almofada de capital para fazer face a eventuais necessidades.

Sobre a auditoria à Caixa, referente à gestão dos últimos 15 anos, adiantou que essa foi pedida pelo Governo à anterior administração em novembro: "A auditoria é um processo que está em curso, está nas mãos da nova administração da Caixa".

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