Dinâmica de instabilidade global tem por detrás a "falta de confiança"

por Lusa

Lisboa, 03 mai (Lusa) -- O antigo ministro dos Negócios Estrangeiro português, Luís Amado, afirmou hoje que há uma dinâmica de instabilidade nos processos políticos e geopolíticos a nível global que tem por detrás um problema de "falta de confiança".

Falando no VI Congresso da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), sobre o tema "Crescer com o Consumidor", Luís Amado explicou que atualmente existe "uma nova normalidade no mundo, a da estagnação permanente e da instabilidade" que, em seu entender, "só se resolve com a confiança".

"O problema é de facto de confiança e não se resolve sem uma resposta política. Há atualmente uma crise de confiança muito profunda, com a poupança a atingir níveis historicamente baixos, apesar do consumo e do débil investimento", salientou o ex-governante.

Segundo o antigo chefe da diplomacia portuguesa e ex-presidente do Conselho de Administração do Banif, o investimento privado "está muito condicionado" por fatores de insegurança e na frente geopolítica há "problemas sérios" com os agentes económicos a sentirem-se impotentes para os resolver.

"É um erro reduzir a atual situação no mundo a uma crise cíclica, pois tem impactos globais que devem ser analisados", salientou, lembrando que tem havido "alguma incúria" por parte dos políticos.

Luís Amado alertou também para a dimensão geopolítica da crise e para a mudança do poder a que se está a assistir.

"A hegemonia e a liderança do sistema internacional estão definitivamente em causa [exemplificou, com o que se passa na China, Europa, Estados Unidos e no Médio Oriente] e estamos a viver uma mudança estrutural e um ciclo da globalização que se fecha, mas não sabemos qual será a nova configuração mundial", esclareceu o ex-governante.

Para Luís Amado está-se atualmente perante "um jogo de poder" e de "mudança no modelo das relações internacionais".

"Os mercados e o capitalismo", disse, generalizaram-se, "o que foi feito com a alavanca da Internet".

Daí que as relações entre os indivíduos, os Estados e as regiões estejam a mudar rapidamente, gerando uma reação à globalização, defendeu.

"A estabilidade, a confiança, a certeza para as organizações e para os Estados são fundamentais num mundo em competição e cada vez mais selvagem", advertiu, lembrando que aqueles que estão à frente "já estão a ganhar".

Sobre as políticas monetárias dos bancos centrais realçou que "não bastam por si só" e têm estado a dar tempo à política e aos políticos para responderem aos problemas da frente política e geopolítica.

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