TAP pública ou privada? A discussão entre os Aliados e o Terreiro do Paço

por Cristina Sambado - RTP
Governo demarca-se das rotas da TAP Paulo Whitaker, Reuters

O presidente da Câmara do Porto afirma que os portuenses preferem voar para a Europa numa “companhia aérea de bandeira” e acusa a TAP de estar a abandonar aceleradamente, nos últimos seis anos, o aeroporto Francisco Sá Carneiro. Em entrevista à TVI, na noite de quarta-feira, Rui Moreira lembrou que a companhia aérea tem uma participação do Estado. Pelo que deve agir como uma empresa pública.

“Aquilo que nos preocupa é que a TAP enquanto transportadora aérea nacional de bandeira, em que o Estado português acaba de recomprar uma posição importante, e assumir 50 por cento, neste momento está a abandonar mais aceleradamente o Porto do que aquilo que tem feito nos últimos 12 anos”, afirmou o autarca.

A 18 de janeiro a companhia aérea anunciou o fim das ligações do Porto a Barcelona, Roma, Milão e Bruxelas a partir da Páscoa. Estas são rotas que têm uma ocupação média superior a 90 por cento, mas a TAP alega que são deficitárias. “Nós não estamos preocupados com o turismo. Os turistas vão chegar na mesma, chegam através da Ryanair, da Easyjet de todas as companhias”.

Segundo Rio Moreira, “a TAP perdeu metade da sua quota de mercado nos últimos seis anos, no aeroporto do Porto, e isto obedece a uma estratégia perfeitamente diferenciada por parte da TAP, relativamente ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro”.

Na quarta-feira a TAP divulgou os horários da ponte aérea, com voos às horas certas a partir de Lisboa e às meias horas a partir do Porto. A ponte aérea ficará à responsabilidade da TAP Express, a nova companhia do grupo, que vai substituir a Portugália. As tripulações são, no entanto, uma subcontratação de serviços a um operador privado - a White.

“Para nós, não é indiferente voar do Porto, nomeadamente para a Europa e para destinos que são particularmente importantes para nós, usando uma transportadora nacional, garantindo assim ida e volta, ou ter que vir por Lisboa, através de uma ponte aérea. É completamente diferente”, frisou Rui Moreira na entrevista à TVI.

Para o autarca, “qualquer cidadão de Lisboa ficaria com a mesma preocupação se tivesse que apanhar uma ponte aérea para o Porto e depois do Porto tivesse que ir para Milão num avião da TAP”.

Rui Moreira afirma que a explicação inicial dada para o final dos voos, “foi que tinham poucos passageiros e nós demostramos e provamos que tinham um elevadíssimo número de passageiros, tinham mais do que a média da TAP”.
Pública ou privada?
Para Rui Moreira, “a TAP enquanto empresa privada faz as suas escolhas, a questão não é essa, a questão é que a TAP ainda tem a participação do Estado português, 39 por cento. Ainda há dias foi anunciado que o Estado português vai assumir mais 11 por cento”.

“Se continua a ser uma empresa estratégica, na qual os nossos impostos estão envolvidos, então nós temos que exigir que essa empresa desempenha o desígnio estratégico para que foi criada na altura e que continua a existir”, sublinhou. O presidente da Câmara do Porto recorda que nunca afirmou “que a empresa deve ser nacionalizada ou não”. “Esse é um tema do Governo, no qual eu não me meto”, sublinhou.

“Se é totalmente privada, os acionistas privados farão aquilo que entenderem, se quiserem tomar más decisões tomarão. E nós passageiros tomaremos as decisões que queremos, ou seja deixaremos de voar na TAP, porque a TAP deixa de nos oferecer o serviço. Não é uma questão de ameaça, é uma questão objetiva”, declarou.

“Se a TAP for vendida a 100 por cento, a acionistas privados eu não posso exigir ao acionista privado que faça um serviço qualquer. Mas o que me preocupa, é que nós temos lá dinheiro. Temos lá 39 por cento e vamos comprar mais 11 por cento. A TAP vai ficar indelevelmente como uma empresa em que o Estado tem 50 por cento e garante toda a dívida”.

Para o ex-presidente da Associação Comercial do Porto, “a TAP não se pode comportar como uma empresa privada. Essa é que é a questão. Tem de se comportar como uma empresa pública e ser bem gerida”.

“Porque com as contas que se conhecem, sabe-se onde é que a TAP perdeu muito dinheiro. Foi numa operação no Brasil que nada tinha a ver com aquilo que o serviço público que a TAP nos presta. A TAP não entrou em dificuldades por causa da sua operação em Lisboa, no Porto, em Faro, em Ponta Delgada ou no Funchal. Foi porque fez um mau negócio no Brasil”, recordou.

Segundo Rui Moreira a “TAP enquanto empresa pública é perfeitamente viável”.
Desviar passageiros para Lisboa
Na entrevista à estação de Queluz de Baixo, o presidente da Câmara do Porto recordou que “temos em Portugal três aeroportos: Lisboa Porto e Faro. Neste momento aquilo que está a acontecer é uma forma objetiva de desviar passageiros do Porto para Lisboa”.

“E pergunto, não é verdade que o aeroporto Francisco Sá Carneiro neste momento tem a capacidade de crescer e o aeroporto de Lisboa começa a estar próximo do lumiar da sustentabilidade em termos de movimento? Fará sentido que uma companhia que é nossa, paga por nós, esteja neste momento a acelerar o esgotamento da Portela e a esvaziar o aeroporto Francisco Sá Carneiro?”.

Para Rui Moreira, “o Porto pode perfeitamente desempenhar, como tem desempenhado, uma função estratégica e avaliar a carga relativamente a Lisboa e por outro lado, ir buscar um hinterland, já que é muito fácil chegar ao Porto porque nós estamos a 1h30 de Vigo e estamos a duas horas de Santiago de Compostela”.

“É por isso que os voos da TAP, nomeadamente para o Brasil, estão cheios e tenho pena que a TAP se tenha esquecido, por exemplo, dos transportes para Angola. Porque a TAP não quis transportar para Luanda a partir do Porto, quando nós sabemos que muitas pessoas que iam para Luanda vão a partir do Porto. A TAAG (linhas aéreas angolanas) não se preocupou e colocou três aviões no Porto e funciona”, rematou Rui Moreira.
Governo demarca-se
O ministro do Planeamento e Infraestruturas afirma, por seu turno, que o Governo não deve ter influência na gestão de tráfego da TAP. Em entrevista à SIC, Pedro Marques quis ainda frisar que "o Porto será uma base relevante da operação da transportadora aérea.

“O que dissemos e dizemos é que estamos preocupados com o futuro da TAP em geral, com o futuro também no Porto. O Porto será uma base relevante para operações da TAP, mas o Estado não interfira na definição das rotas da empresa. Não interfiramos nas definições das rotas e das frequências. Isso é um ponto adquirido”, afirmou Pedro Marques.

Para o ministro do Planeamento e Infraestruturas, “se alguma alteração se produzir a esse nível, será de certeza da competência da Comissão Executiva”.
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