Arábia Saudita prepara vaga de decapitações

por RTP
Manifestante iemenita reclama a libertação do clérigo xiita al Nimr Khaled Abdullah, Reuters

Mais de cinquenta pessoas, em parte menores com menos de 18 anos à data dos crimes que lhes são imputados, deverão ser executadas em breve. O motivo do frenesi decapitador tem que ver com uma rivalidade entre dois ministros.

Segundo o diário britânico The Independent, as autoridades de Riad preparam-se para executar antes do fim do ano meia centena de presos, por alegadas acções ou intenções terroristas. As execuções deverão ocorrer em diversas cidades sauditas, numa das sextas feiras que restam deste ano, após as orações do dia.

No ano passado tinha havido 90 execuções, nenhuma delas por acusações de terrorismo, Neste ano registaram-se já 151. Com as 50 que poderão estar iminentes, o número de execuções mais do que duplicaria em relação a 2014.

Entre os que poderão ser executados em breve, conta-se o clérigo xiita Sheikh Nimr al Nimr, que fora detido após um tiroteio ocorrido em 2012.

Sobre o fundamento das acusações de "terrorismo", o diário britânico cita um carta das mães de cinco detidos, três deles menores: "Afirmamos que os nossos filhos não mataram nem feriram ninguém. As sentenças basearam-se em confissões extraídas sob tortura, julgamentos em que lhes foi vedado o contacto com os advogados de defesa e juízes que mostraram sempre a sua parcialidade a favor da acusação".

Também citado naquele diário, o irmão de um jovem detido em 2011, com 17 anos, e depois condenado à morte diz que este "é um rapaz esperto, gosta de jogar futebol, é fotógrafo. Ele não era político, estava só a reivindicar os seus direitos, os direitos da minoria xiita".

Ao visitar o preso, disse que este tinha o nariz partido. A mãe também o visitou e diz que ele tinha a cara tão inchada de pancada que não o reconheceu. As autoridades sauditas negam a prática de tortura, mas a Amnistia Internacional diz que há provas claras do contrário, pede uma investigação independente sobre a tortura e acrescenta: "Estas execuções não deviam acontecer. A Amnistia Internacional está contra a pena de morte em quaisquer circunstâncias".

Tanto o secretário britânico dos Negócios Estrangeiros, Philip Hammond, como peritos da ONU e deputados do Parlamento Europeu têm-se pronunciado contra a execução dos condenados, em especial do líder xiita al Nimr.

A ânsia do Governo saudita, de executar mais meia centena de condenados, é vista como uma das manifestações da luta entre o ministro do Interior, o príncipe Mohammad bin Nayef, e o ministro da Defesa, príncipe Mohammad bin Salman.

Segundo a análise veiculada pelo diário britânico e baseada no depoimento do exilado saudita em Londres Saad al Faqih, Mohammad bin Salman ganhou posições decisivas pela sua proximidade ao rei afectado por demência, e o seu rival Mohammad bin Nayef quer agora recuperar terreno com uma demonstração de força que seria a decapitação de uma fornada de 52 condenados de uma só vez.
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