Cimeira do clima finaliza texto de acordo contra aquecimento global

por Carlos Santos Neves - RTP
“Estamos perto do fim de um caminho e, sem dúvida, a começar outro”, declarou em Paris o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius Christophe Petit Tesson - EPA

Horas de negociações que pareciam infindáveis deram à estampa, este sábado, a derradeira versão do texto para um acordo internacional com vista a interromper o ciclo de aquecimento da Terra. O projeto foi submetido pelo ministro francês dos Negócios Estrangeiros às delegações dos 195 países representados em Paris. Emocionado, Laurent Fabius resumiu a meta ali definida: manter a subida dos termómetros abaixo dos dois graus centígrados, face a números anteriores à Revolução Industrial.

A emprestar um cunho histórico ao resultado de sucessivas e prolongadas maratonas negociais em Paris, Laurent Fabius sentou-se entre o Presidente francês, François Hollande, e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no momento de anunciar a obtenção de um texto final de acordo. O ministro francês não ocultou a emoção.
Pedro Oliveira Pinto, Dores Queirós - RTP

O texto que é agora submetido para ratificação aos 195 países que enviaram delegações à capital francesa consagra o objetivo mais propalado ao longo das últimas semanas: manter, nas palavras do chefe da diplomacia francesa, o aquecimento da Terra “bem abaixo” dos dois graus centígrados.O discurso do presidente da COP21, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, foi saudado com um sonoro aplauso.

Fica também inscrito no documento o compromisso no sentido de um esforço para “limitar a 1,5º C” o aumento da temperatura do planeta.

O texto, sublinhou Fabius, “confirma o nosso objetivo central, até mesmo vital, de conter o aumento da temperatura média bem abaixo de dois graus e de nos esforçarmos por limitar esse aumento a 1,5 graus, o que permitiria reduzir significativamente os riscos e os impactos ligados às alterações climáticas”.

Ainda segundo o governante francês, o projeto de acordo agora concluído é “justo, durável, dinâmico, equilibrado e juridicamente vinculativo”.
“O passo decisivo”
Por sua vez, o Presidente francês dirigiu-se aos representantes dos 195 países da COP21, exortando-os a avançarem para “o passo decisivo” da adoção, ainda este sábado, do texto de acordo. Trata-se, clamou François Hollande, de um “ato maior para a humanidade”.

Hollande apelou aos interlocutores em Paris para que façam deste “12 de dezembro um dia não apenas histórico, mas uma data para a humanidade”.

“A França suplica-vos que adotem o primeiro acordo universal da nossa história”, dramatizou o Chefe de Estado francês.

Também o secretário-geral da ONU instou os países representados em Paris a “acabar o trabalho”. “O fim está próximo. Acabemos agora o trabalho. O mundo olha-nos. Milhões de pessoas dependem da vossa sabedoria”, declarou Ban Ki-moon.
Dinheiro, um capítulo difícil
Laurent Fabius convidou entretanto os representantes nacionais a tomarem conhecimento dos detalhes do texto de compromisso, para depois se reunirem a partir das 15h45 (14h45 em Lisboa).

“Este texto que construímos juntos constitui o melhor equilíbrio possível, um equilíbrio ao mesmo tempo poderoso e delicado que permitirá a cada delegação, de cada país, regressar a casa de cabeça erguida e com conquistas importantes”, sustentou.

Quanto a verbas, um dos pontos mais sensíveis das negociações, o texto prevê, de acordo com o governante francês, que os 100 mil milhões de dólares anuais prometidos pelas nações do hemisfério norte aos países do sul, para que estes possam financiar políticas de proteção ambiental, constituam “um degrau para o pós-2020”.

“Um novo objetivo numérico deverá ser definido, o mais tardar, em 2025”, adiantou.

Cauteloso, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já veio dizer que o acordo universal está nesta altura “sobre carris”, embora possa ainda haver lugar a “pequenas coisas” que atrasem a engrenagem.
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