Europa vai "definir-se" pela resposta que der quanto a refugiados

por Lusa

Beirute, 16 nov (Lusa) - Hostilizar os refugiados na Europa é torná-los duplamente vítimas do terrorismo, considera o coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), para quem o continente se definirá pela resposta que for capaz de dar após os atentados de Paris.

"Creio que a Europa se definirá pela resposta que for capaz de dar. Sabendo distinguir muito bem os terroristas, que devem de ser condenados e combatidos sem hesitação, daqueles que são as suas vítimas, nomeadamente os refugiados. Creio que é um momento crítico para definirmos quem somos enquanto europeus", disse Rui Marques em declarações à Lusa, em Beirute.

Questionado sobre se os atentados de Paris terão consequências em relação aos milhares de refugiados, especialmente da Síria, que procuram a Europa, Rui Marques não tem dúvidas: "introduz uma enorme perturbação naquele que já era um desafio grande no acolhimento e integração dos refugiados".

Mas o importante, defende o responsável, é que os europeus, e particularmente os portugueses, pensem se, depois de os refugiados terem sido vítimas dos terroristas, "os querem voltar a fazer de vítimas de novo de um ato terrorista".

Em Beirute para conhecer os projetos que a PAR está a apoiar no país, Rui Marques disse que o Líbano acolheu nos últimos quatro anos um milhão e meio de refugiados sírios, um aumento de 30 por cento da população, lembrou que os dois países não têm boas relações, que é um país pobre e que "os libaneses souberam estar à altura".

E se os libaneses têm dificuldades é porque países como os europeus não foram solidários com os que mais refugiados receberam, o Líbano mas também a Jordânia ou a Turquia, defende Rui Marques.

E deixa um aviso: a questão é saber de que lado estamos, se da justiça e dos que são solidários para com as vítimas do terrorismo, sejam elas quem forem, ou se somos só solidários com os que falam a nossa língua ou são nossos vizinhos.

Porque não tem dúvidas que os atentados de Paris vão tornar a vida mais difícil aos refugiados na Europa, afinal gente que está "à procura de uma oportunidade de recomeçar a sua vida".

"É inacreditável se nós lhes fizermos pagar a fatura dos atentados terroristas", sejam eles no Líbano (na quinta-feira passada), no Iraque ou no Egito, porque, diz Rui Marques, "os refugiados são eles próprios as principais vítimas".

O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou no sábado, em comunicado, os atentados de sexta-feira em Paris, que causaram pelo menos 129 mortos, entre os quais dois portugueses.

Os ataques, perpetrados por pelo menos sete terroristas, que morreram, ocorreram em vários locais da cidade, entre eles uma sala de espetáculos e o Stade de France, onde decorria um jogo de futebol entre as seleções de França e da Alemanha.

A França decretou o estado de emergência e restabeleceu o controlo de fronteiras.

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