Frente Nacional rompe com Jean Marie le Pen

por RTP
Jean-Marie Le Pen, fundador e presidente honorário da Frente Nacional, o partido francês de extrema direita. Gonzalo Fuentes/Reuters

É a pior crise do movimento de extrema-direita francês e é a própria presidente do partido, Marine Le Pen, filha do seu fundador, Jean Marie Le Pen, que o reconhece ao jornal Le Monde. A rutura com o líder carismático consumou-se, Marine le Pen não quer o pai como cabeça de lista das eleições regionais de Provence-Alpes-Côte d'Azur e no horizonte pairam mesmo sanções disciplinares.

Em causa recentes declarações de Jean-Marie Le Pen, que volta a classificar como "detalhe" as câmaras de gás nazis e lamenta noutra entrevista que a França seja governada por "imigrantes e filhos de imigrantes".

A Frente Nacional "não quer ficar refém das suas provocações grosseiras", afirmou agora Marine ao quotidiano francês. "Oponho-me à candidatura de Le Pen, porque ele está numa espiral entre a estratégia da terra queimada e o suicídio político," acrescenta. "Ele pretende prejudicar-me", acusa ainda.

"É uma crise sem precedentes", mesmo para a longa história de confrontos entre pai e filha, reconhece Marine. Pela primeira vez desde a fundação do partido em 1972, Jean-Marie Le Pen, de 86 anos, pode ser boicotado pelos seus.

"Vamos reunir o comité executivo para encontrar o melhor meio de proteger os interesses do movimento", diz Marine, "com profunda tristeza". O que implica que, além de afastar o pai como possível candidato, admite sanções disciplinares. Retirar-lhe a presidência honorária é uma opção.
Profundo desacordo
A crise iniciou-se desta vez a dois de abril, quando Le Pen pai classificou, mais uma vez, as câmaras de gás nazis como "um detalhe" na história da Segunda Guerra Mundial. "Não sou homem para mudar de opinião", afirmou.

Marine mostrou imediato a sua desaprovação quanto a estas considerações. A presidente da Frente Nacional declarou-se "em profundo desacordo quanto à forma e ao fundo".

Só que, em vez de se calar e de resolver a questão internamente, o velho Le Pen voltou à carga numa entrevista ao jornal de extrema direita Rivarol, a publicar esta quinta-feira.

Desde logo, acusa a filha de o trair. "Nunca somos traídos excepto pelos nossos", comenta.

Jean-Marie lamenta que o seu país seja atualmente "governado por imigrantes e filhos de imigrantes", como o primeiro ministro Manuel Valls. "Valls é francês há 30 anos. Eu sou-o desde há mil".

Le Pen pai mostra-se por outro lado admirador do general Philippe Pétain, o dirigente francês que colaborou com a ocupação alemã da França. "Nunca considerei Pétain um traidor", diz, referindo aliás que na FN existem "petanistas convictos" os quais têm "o seu lugar no partido, tal como o têm os defensores da Argélia francesa".

Marine Le Pen durante a campanha para as eleições regionais francesas a 25 de março de 2015 (Foto: Reuters)Gota de água
Para Marine, estas declarações são a gota de água que justifica uma rutura definitiva com o pai.

"A sua posição de presidente honorário não o autoriza a fazer refém a Frente Nacional, nem a provocações tão grosseiras, cujo objetivo parece consistir em prejudicar-me, mas que dão um golpe muito duro a todo o movimento, aos seus quadros, aos seus candidatos, aos seus militantes, aos seus eleitores", afirmou a presidente da FN.Os confrontos entre os Le Pen sempre foram públicos, já que a filha não segue a estratégia paterna. Marine tem procurado afastar a Frente Nacional da retórica anti-semita e racista típica do pai.

A crise entre os Le Pen surge no melhor momento eleitoral da história da Frente Nacional.

Na segunda volta das recentes eleições regionais francesas, a 29 de março, ganhas pelos conservadores, a Frente Nacional conseguiu eleger 62 conselheiros em 14 Departamentos, menos de 2 por cento de todos os lugares, mas um enorme salto do único conselheiro eleito anteriormente.

Foram os melhores resultados de sempre da Frente Nacional que, apesar disso, ficou aquém do principal objetivo, obter o controlo de pelo menos um Departamento.
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