Depois de uma semana de ataques, o exército iraquiano entrou esta segunda-feira em Falluja. O Governo local avança para a reconquista de uma cidade considerada vital para a segurança da capital Bagdade, a meia centena de quilómetros do até agora bastião jihadista. Também a norte, nos arredores de Mossul, aumenta a pressão sobre as forças de al-Baghdadi.
As autoridades esperam que esta seja a última batalha de uma ofensiva anunciada há uma semana pelo Governo de Bagdade. Seguiram-se os ataques aéreos da coligação internacional chefiada pelos Estados Unidos e os disparos de artilharia.
As unidades de elite começavam então a avançar. O exército entra agora na cidade, a partir de três frentes.
As autoridades estimam que a maioria dos combatentes do Estado Islâmico tenha já desertado de Falluja. Na cidade estarão entre 500 e 700 jihadistas, oriundos de diferentes cidades iraquianas e de países vizinhos, explica Rajaa Al-Essaoui, membro do conselho provincial de Ambar, ao diário Le Monde.
Reportagem de António Mateus e Paula Meira (29 de maio de 2016)
A missão não deixa de ser difícil. A cidade alberga ainda cerca de 50 mil civis, usados como escudos humanos pelos jihadistas. São dezenas de milhares de pessoas com dificuldades em aceder a medicamentos, comida e água potável. Cerca de três mil fugiram na última semana.
A reconquista de Falluja apresenta-se como uma prioridade para Bagdade e Washington. É uma cidade simbólica, uma vez que foi a primeira a cair sob controlo do autoproclamado Estado Islâmico em janeiro de 2014.
Mas é também uma prioridade para garantir a segurança da capital iraquiana, situada a apenas meia centena de quilómetros a este de Falluja e tentar evitar novos ataques suicidas.
A confirmar-se a conquista pelas forças iraquianas, fecha-se mais um dos capítulos da preenchida história recente de Falluja. Em 2004, a cidade foi conquistada pelos Estados Unidos à Al Qaeda.
Oitenta soldados norte-americanos e dois mil rebeldes perderam a vida numa ofensiva que levou à destruição de milhares de edifícios. A cidade regressaria ao controlo de forças islamitas, desta vez ao Estado Islâmico, em janeiro de 2014.
Missão Mossul
A conquista de Falluja é prioritária, tal como são as de Racca, na Síria, e Mossul, no norte do Iraque. Esta última é a maior cidade controlada pelas forças de Al-Baghdadi.
Antes do início da guerra, esta localidade do nordeste iraquiano albergava dois milhões de pessoas, sendo ainda um histórico polo comercial e a capital da província de Ninawa, uma zona rica em petróleo.
As brigadas jihadistas estão já a ser pressionadas nos arredores desta metrópole. As forças curdas têm levado a cabo uma ofensiva a cerca de 30 quilómetros da cidade, apoiada por 5.500 combatentes e pelos aviões da coligação internacional.
Participação dos EUA
A operação teve início este domingo e levou, em dez horas, à conquista de três aldeias. O Pentágono confirma que há militares canadianos e norte-americanos no terreno para “aconselhar e acompanhar as operações” levadas a cabo pelos peshmerga curdos.
“Esta é uma de muitas operações para aumentar a pressão sobre o Estado Islâmico em Mossul e nos seus arredores como preparação para um eventual assalto à cidade”, confirma o Conselho de Segurança da Região Curda, citado pelo portal Vice News.
Entretanto, muitos residentes em Mossul tentam já fugir da cidade. No fim da semana passada, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados dava conta que mais de 4.200 iraquianos fugiram rumo à Síria.
“Olhem para isto, temos refugiados a fugir para a Síria, tal deve ser o desespero”, sublinhou então a porta-voz Melissa Fleming, prevendo que 50 mil pessoas possam também tentar esta fuga. Em causa, a ideia de que está para breve a ofensiva final que poderá levar Bagdade a recuperar a capital de Ninawa.
No fim de 2015, Bagdade manifestou a esperança de que Mossul seria reconquistada em 2016, naquela que seria a “vitória final” da guerra contra o Estado Islâmico.