Líder húngaro avisa que pode haver mais saídas na Europa

por Andreia Martins - RTP
O primeiro-ministro húngaro quer referendar ainda este ano a quota de distrbuição de refugiados defendida por Bruxelas Francois Lenoir - Reuters

O primeiro-ministro húngaro já é uma voz habitual entre os que defendem a construção de muros e se opõem à entrada de imigrantes. Agora, avisa que a ausência de uma estratégia de controlo efetivo do fluxo migratório poderá resultar na saída de outros países da União.

Na ressaca do histórico resultado no referendo britânico, há mais líderes europeus que responsabilizam as políticas migratórias de Bruxelas pela saída do Reino Unido. Ontem, no último Conselho Europeu em que terá participado enquanto primeiro-ministro britânico, David Cameron ligou a vitória do Brexit à livre circulação de pessoas no mercado único europeu.

Em declarações à televisão estatal húngara durante a Cimeira de líderes europeus que termina esta quarta-feira em Bruxelas, o primeiro-ministro da Hungria dá razão aos argumentos invocados por David Cameron, que hoje já não participa nos trabalhos.

“Se um dia as pessoas pensarem que os seus países só vão conseguir opor-se às políticas migratórias de Bruxelas com a saída da União Europeia, será um problema. Pelo que entendi das palavras de David Cameron, foi isso que aconteceu no Reino Unido”, avisa Órban.

“Sem clarificarmos os objetivos, não podemos falar de mais ou menos Europa. Se queremos estancar o fluxo migratório e aumentar o controlo dos estados-membros neste processo, então a Hungria está ao lado da Europa. Se, no entanto, a Europa quer trazer mais migrantes e depois distribuí-los pelos países, então queremos menos Europa. E queremos manter controlo desse assunto a nível nacional”, reitera o primeiro-ministro húngaro.
Referendo húngaro
A Hungria planeia levar a cabo um referendo sobre a questão migratória entre os meses de setembro e outubro. O Governo de Budapeste planeia questionar o eleitorado sobre o sistema de quotas previsto pela política migratória de Bruxelas.

Da Hungria, não faltam críticas ao sistema de distribuição de refugiados por quotas, uma das principais bandeiras defendidas por Berlim desde a intensificação do fluxo migratório.

Ainda a Europa recuperava do choque, o primeiro-ministro húngaro avisava na sexta-feira, dia em que se soube o resultado do referendo britânico, que os líderes “devem ouvir a voz do povo”. Viktor Órban lembrou ainda que “a Europa só pode ser forte se conseguir responder a questões como a imigração, mas falhou na resposta a estes problemas”.

Perante a situação de instabilidade criada após o referendo britânico, o líder húngaro sublinha, no entanto, que não há qualquer partido húngaro que apoie a saída efetiva da União Europeia, nem sequer os mais nacionalistas ou radicais.

“Os húngaros acreditam que uma clara indicação da sua vontade poderá ajudar à criação de uma política migratória comum, que seja aceite por todos. Por isso, a questão da nossa permanência não terá sequer de ser levantada”, esclarece.

Logo nos dias que se seguiram à consulta popular no Reino Unido, o Governo húngaro mostrou-se comprometido com o referendo, anunciado no início do mês passado. “Estamos determinados em seguir com este referendo, nem há qualquer razão para não o fazermos. Nunca foi tão relevante perguntar às pessoas o que elas pensam”, disse um porta-voz do executivo no início desta semana.
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