Ex-comandande das Falintil admite erros na luta pela libertação de Timor-Leste

por Cristina Sambado - RTP
Ex-guerrilheiros das Falantil numa cerimónia em 2001 Lirio Da Fonseca- Reuters

Rogério Lobato, ex-comandante das Falintil, o braço armado da resistência timorense, admitiu esta quarta-feira que durante a luta pela libertação de Timor-Leste “se cometeram alguns erros”. E que o objetivo só foi alcançado pela união do povo timorense.

Na conferência que assinala os 40 anos da fundação das Forças Armadas de Libertação de Timor-Leste (Falintil), um dos pilares da resistência timorense na luta pela independência do país, Lobato reconheceu que “muitas vezes a revolução devora os seus próprios filhos”.

“Houve momentos bons, outros menos bons. Lutámos uns contra os outros. Algumas coisas foram resolvidas de forma incorreta. Não podemos aceitar que a revolução tenha morto os seus próprios filhos”, frisou, numa intervenção citada pela agência Lusa.

“Nós vencemos a luta. E agora temos que ser unidos, apesar das coisas que aconteceram, de modo a desenvolver este país. Temos que lutar por Timor, para que as crianças vivam num país melhor e não sofram o que nós sofremos”, continuou.

No seu discurso, Rogério Lobato recordou que na reta final da conquista da independência foi muito importante o papel da frente diplomática, destacando o “papel e apoio de Portugal e de figuras como Jorge Sampaio e António Guterres”.

“Esta foi uma luta coletiva, da frente armada, da frente clandestina, da frende diplomática, da igreja. Vencemos por causa da força coletiva. E agora trabalhamos juntos. Somos amigos. Não temos de pensar todos da mesma forma, mas podemos pensar todos no mesmo, o desenvolvimento do país”, acentuou.
40.º aniversário das Falintil
A conferência insere-se nas atividades que assinalam os 40 anos das Falintil, que começaram na passada semana e vão ter o seu ponto alto na quinta-feira, com as comemorações oficiais em Taci Tolo, a oeste de Díli.
Em 1987, as Falintil tornam-se apartidárias e consolidam-se como braço armado da resistência à ocupação indonésia.

As Falintil, criadas como braço armado da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), começaram a marcar o seu papel na história timorense a 15 de agosto de 1975, altura em que foi lida, na localidade de Aisirimou, próximo de Aileu, a sul de Díli, a “Declaração de insurreição Armada”.

Um momento recordado esta semana com uma cerimónia de homenagem na qual participaram os principais dirigentes timorenses.

Após a independência de Timor-Leste, a 20 de maio de 2002, as Falintil transformaram-se nas Forças de Defesa de Timor-Leste.

“Lutámos por defender o povo. Mas todos nós cometemos erros, e, algumas vezes, nós próprios matamos os nossos irmãos. Temos de reconhecer isto. E espero que um dia os líderes da Fretilin possam falar sobre isso”, acrescentou Rogério Lobato.
Governo destaca coragem
O Executivo timorense destacou, em comunicado, a grande coragem e sacrifício de todos os elementos das Falintil que travaram a “difícil batalha pela liberdade” do país.

“Durante 24 anos, a resistência travou uma difícil batalha pela liberdade. Era um pequeno exército mal equipado e sem qualquer apoio militar externo, que lutava contra um gigante e os seus aliados”, afirma o documento.

“Com grande coragem e contra todas as probabilidades, os soldados das Falintil mantiveram uma ação de guerrilha persistente até o povo timorense poder votar pela independência, no referendo de 1999”.

A 30 de agosto de 1999, na sequência de um referendo promovido palas Nações Unidas, os timorenses votaram, por esmagadora maioria, pela independência, colocando um ponto final aos 24 anos de ocupação indonésia.

No entanto, o resultado da consulta popular gerou conflitos por parte de um grupo pró-indonésia que destruiu partes das infraestruturas do país e que matou cerca de 200 mil pessoas. Conflito que só foi resolvido com a mobilização da Missão das Nações Unidas de Apoio a Timor-Leste.

A 20 de maio de 2012 a independência do país foi restaurada e reconhecida pelas Nações Unidas que entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste.

c/ Lusa
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