Ministro israelita ameaça Faixa de Gaza com destruição total

por RTP
Avigdor Lieberman com Hillary Clinton Ammar Awad, Reuters

O ministro israelita da Defesa, Avigdor Lieberman, ameaçou destruir totalmente a Faixa de Gaza, no caso de uma nova guerra que seria, então, "a última". Lieberman enunciou também as condições que os palestinianos deverão cumprir para evitar esse desfecho.

Avigdor Liberman, ministro israelita da Defesa e líder do partido de extrema-direita Yisrael Beytenu, concedeu uma invulgar entrevista ao jornal palestiniano Al-Quds, para enviar dois recados contraditórios ao público palestiniano.

Por um lado, Liberman afirma que Israel não tem interesse em invadir novamente a Faixa de Gaza. Diz mesmo, segundo citação do diário israelita The Times of Israel, que estaria disposto a contribuir para a reconstrução da Faixa e da sua infraestrutura, devastada pelo mais recente ataque israelita em larga escala.

Estaria mesmo disposto a contribuir para a construção de um porto de mar e de um aeroporto, desde que Israel fiscalizasse as mercadorias transitadas por essas duas vias - invocando para isso a necessidade de impedir a entrada de armas.

Lieberman, que várias vezes tinha preconizado uma reocupação da Faixa de Gaza para pôr termo ao lançamento dos chamados "mísseis Qassam", esforçou-se mesmo, na entrevista, por retificar a imagem deixada por essa repetida afirmação e sustentou, pelo contrário, que não é do interesse de Israel restabelecer a ocupação da Faixa, tal como ela existira até 2005.

O ministro, conhecido pela sua hostilidade a qualquer forma de autodeterminação palestiniana, também pagou o seu tributo ao politicamente correcto e internacionalmente frequentável, ao declarar-se favorável ao princípio dos dois Estados.

Mas, onde começa a explicitar o conteúdo que atribui a esse princípio, começa também a deixar claro um abismo intransponível para qualquer negociação com a parte palestiniana e mesmo a distância que o separa das resoluções da comunidade internacional.

É que Liberman em caso algum associa o princípio dos dois Estados ao das fronteiras de 1967, antes reivindica o direito de Israel a anexar os colonatos construídos em território palestiniano ocupado, e em fazer deles parte reconhecida do território de Israel. Em troca sugere que poderiam ser cedidas a um futuro Estado palestiniano as áreas do Estado de Israel onde predomina uma população "árabe-israelita".

A troca que sugere (territórios por população) é diferente daquela que, como quadratura do círculo, tem ocupado em vão as sucessivas comissões negociadoras de um hipotético acordo de paz (territórios por paz). E é uma troca para a qual, sem surpresas, não houve até agora qualquer sinal de recepctividade palestiniana ou internacional.

Com efeito, ela significaria, por um lado, excluir do Estado de Israel cerca de um quinto da sua população, visando transformá-lo num Estado judeu etnicamente "puro". Por outro lado, anexaria Jerusalém Oriental e os melhores territórios da Margem Ocidental do Jordão, que precisamente por serem os melhores foram escolhidos para a edificação de colonatos. Em troca, atribuiria a um bantustão palestiniano algumas áreas mais pobres de Israel, como Umm al-Fahm, onde vive precisamente a sua população "árabe-israelita".

Perante estas propostas, o público palestiniano é ao mesmo tempo confrontado com um dilema entre a paz e a guerra. O argumento de Lieberman a favor da aceitação das suas sugestões é, mais do que o mérito destas, o cenário apocalíptico que poderia acompanhar uma nova guerra com a Faixa de Gaza: "Nós destruí-la-emos completamente".
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