Nobel da Paz para presidente colombiano Juan Manuel Santos

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Mauricio Duenas Castaneda, EPA

O Prémio Nobel da Paz foi este ano atribuído ao presidente colombiano Juan Manuel Santos. A decisão do comité Nobel está a ser vista como uma tentativa de segurar o acordo trabalhado pelo presidente colombiano e as FARC para pôr fim a 50 anos de violência no país.

Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, está neste momento envolvido no maior projecto do seu mandato: a assinatura de um acordo de paz com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o movimento revolucionário também visto como organização terrorista.


O governo colombiano e as FARC tinham selado a 26 de Setembro um acordo de paz para pôr fim ao ciclo de violência que custou ao país mais de 220 mil vidas no último meio século, mas os colombianos foram no passado domingo às urnas para votar uma rejeição desse acordo.Juan Manuel Santos Calderón, 65 anos, é advogado, economista e político. Membro do partido De la U (Partido Social de Unidad Nacional), é o actual presidente da Colômbia, cargo que ocupa desde 2010. Foi ministro da Defesa no governo de Álvaro Uribe.

Trata-se de um rude golpe para a tentativa de pacificação do país, de que este acordo era a grande esperança.

O governo e a guerrilha envolveram-se em negociações durante cinco anos, para lavrar um texto prevendo a entrega das armas pelas FARC, que se comprometiam ainda a permitir o regresso do camponeses às terras de que foram expulsos.

A atribuição do Nobel da Paz é a melhor notícia para o presidente desde a rejeição nas urnas, há cinco dias. De acordo com o comité, ao ser-lhe comunicada a atribuição do prémio, o presidente Juan Manuel Santos disse que o Nobel da Paz será uma preciosa ajuda para reavivar o processo de paz na América Latina.

"Ele ficou muito emocionado. Muito agradecido. Disse que o prémio tinha uma importância tremenda para o processo de paz na Colômbia", acrescentou o representante do comité após a conversa telefónica com o laureado.
Colombianos rejeitam acordo de paz

O acordo previa a evolução das FARC para um patamar político, já que abria caminho à formação de um partido constituído pelos guerrilheiros. Os casos que tivessem de ser levados perante a justiça teriam lugar em tribunais especiais e não nos tribunais comuns.

Depois de assinado, o acordo assinado em Cartagena das Índias foi levado a escrutínio nas urnas e mereceu um chumbo dos colombianos, ainda que por uma margem mínima: 50,2%.

A pergunta à qual os eleitores tinham que responder, hoje, com um "sim" ou um "não", era se apoiavam o acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura.

Neste contexto, e face à reacção do próprio Juan Manuel Santos, a escolha do Comité do Nobel é uma tentativa de segurar os esforços negociais levados a cabo entre o presidente colombiano e o líder das FARC, Timoleón Jiménez ou Timochenko, nom de guerre de Rodrigo Londoño Echeverri, que assumiu o comando da guerrilha após a morte de Alfonso Cano, em 2011.




"O facto de a maioria dos eleitores ter dito 'Não' ao acordo de paz não significa necessariamente que o processo esteja morto", sublinhou o comité no momento em que anunciou o nome do presidente colombiano.

"E isso faz com que seja ainda mais importante que ambas as partes, lideradas pelo presidente Santos e pelo líder das FARC Rodrigo Londoño, continuem a respeitar o cessar-fogo", sublinhou o comité Nobel.
Duas partes, um laureado
Questionada pelos jornalistas sobre se o comité considerou atribuir o prémio a mais partes, nomeadamente ao líder das FARC, a presidente do Comité Nobel Norueguês escusou-se a comentar outros candidatos.

"Há muitas partes no processo de paz. O presidente Santos tomou uma iniciativa histórica, ele dedicou-se completamente, com grande força de vontade, para alcançar o resultado", declarou Kaci Kullmann Five, acrescentando que o comité vê este prémio como "um forte encorajamento para todas as partes neste processo negocial".

No comunicado, o Comité Nobel norueguês sublinha que Juan Manuel Santos iniciou as negociações que levaram ao acordo de paz entre o Governo colombiano e as guerrilhas da FARC, procurando consistentemente levar o processo de paz adiante.

Sobre a eventual contestação à decisão do comité, uma vez que o acordo de paz entre a Colômbia e as FARC foi rejeitado pela maioria dos colombianos em referendo, a presidente admite que é comum o Nobel da Paz ser contestado.

Garante, contudo, que o objetivo foi "honrar o trabalho que foi feito por todas as partes" e manifestar "apoio ao povo colombiano".

"Não é desrespeito. É claro que respeitamos o processo democrático e o voto do povo, mas eles não disseram não à paz, apenas a este acordo", sublinhou, afirmando que "é extremamente importante evitar que a guerra civil recomece".
Distinguir a luta pela fraternidade
O Nobel da Paz é o único atribuído fora de Estocolmo, de acordo com a decisão de Alfred Nobel, já que na época a Noruega integrava o Reino da Suécia. Em acordo com o testamento do criador dos prémios, Alfred Nobel, o Nobel da Paz distingue a pessoa ou organização que mais tenha trabalhado "pela fraternidade entre nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela organização ou realização de congressos de paz".

Este ano, o Comité Nobel recebeu um número recorde de candidaturas ao Nobel da Paz, 376, dos quais 228 pessoas e 148 organizações.

O Comité só pode divulgar os nomes dos candidatos ao fim de 50 anos, pelo que estes só são conhecidos antes se forem divulgados pelas entidades que os nomeiam.

A entrega dos Nobel realiza-se em duas cerimónias paralelas, a 10 de dezembro em Oslo para o prémio da Paz e em Estocolmo para os restantes, data de aniversário da morte do químico e industrial sueco.


c/ Lusa
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