O mistério dos esqueletos de chineses encontrados em Londres

por Cristina Sambado - RTP
Investigadores analisaram isótopos de oxigénio dos dentes e isótopos de carbono e hidrogénio nos ossos, o que ajudou a revelar os hábitos alimentares das pessoas ali enterradas. DR

Cientistas britânicos estabeleceram que esqueletos encontrados num túmulo da era romana em Londres são de origem asiática. Falta agora a confirmação definitiva através de ADN. Os restos mortais foram enterrados num antigo cemitério, dos séculos II a IV, em Southwark, a sul de Londres.

Num artigo publicado na revista Journal of Archeological Science, a equipa de investigadores da Universidade de Durham e do Museu de Londres questionam como é que os restos mortais chegaram ao antigo cemitério romano de Southwark, e que fazem ali.

Em 2010 já havia sido documentado um caso de restos humanos de uma pessoa de origem asiática num túmulo da era romana, o que sugere que existia pouca presença de pessoas de origem asiática na Europa, durante o império romano, apesar da existência da Rota da Seda. Tratava-se do esqueleto de um homem da Ásia Oriental descoberto num túmulo em Vagnari, Itália, há seis anos.

Nesta nova descoberta, os esqueletos formam um grupo de 22 ossadas enterradas num túmulo romano no cemitério de Southwark. Os ossos remontam a um período compreendido entre os séculos II e IV, uma altura em que o império romano estava bastante forte.

Os investigadores analisaram, até agora, isótopos de oxigénio dos dentes e isótopos de carbono e hidrogénio nos ossos, o que ajudou a revelar os hábitos alimentares das pessoas ali enterradas, e que demonstra que algumas eram de lugares distintos de Londres.

Levaram também a cabo um modelo de estudos dos crânios e dos dentes – diferenças que atribuíram a pessoas de diversas ascendências. A mesma técnica é usada por peritos forenses para estabelecer os restos de ossos em decomposição. Foi esta prova que sugere que dois dos 22 esqueletos eram, provavelmente, de origem asiática e outros quatro de origem magrebina.

No entanto, os investigadores reconhecem que este método não é tão eficaz como as provas de ADN.
Achado raro
Rebeca Redfern, conservadora do Museu de Londres e responsável pela investigação que será publicada no Journal of Archeological Science, afirmou ao jornal El Pais: "Os investigadores estudaram a morfologia dos esqueletos”.

Técnicas macromorfoscópicas

Análises forenses que permitem determinar os antepassados analisando a forma do rosto entre outros aspetos morfológicos.
“Temos utilizado técnicas macromorfoscópicas e comparámos com as populações atuais. Os nossos resultados demonstraram que têm antepassados asiáticos e que estas pessoas não passaram a infância em Inglaterra. Quando nos chegarem os resultados genéticos saberemos, com certeza, se são asiáticos. Pelos dados com que lidámos, esses indivíduos estão mais perto de pertencerem a populações japonesas ou chinesas que qualquer outro local”, afiançou.

Segundo a investigadora, “temos realizado numerosos estudos de esqueletos da época romana encontrados em Londres para determinar a sua origem e têm revelado que os residentes de Londinium [cidade fundada pelos romanos no início do século I] provinham de uma enorme variedade de lugares de todo o império romano, que incluem o Mediterrâneo, o norte de África e agora a Ásia”.

“Trata-se de um achado raro, mas não extraordinário numa civilização que era realmente global”, acrescenta.

Os romanos chamavam aos chineses “o povo da seda", porque esta era um produto que estava na base de todo o comércio: valiosa e fortemente cobiçada pelo Império, o segredo da sua produção só chegou ao ocidente no século VI através de Bizâncio.
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