O que faria Trump como Presidente? Falaria com o líder da Coreia do Norte

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Reuters

“Falaria com ele. Não teria qualquer problema em falar com ele”, assegurou Donald Trump sobre Kim Jong-un e o programa nuclear norte coreano. É uma reabertura do diálogo defendida pelo mais do que provável candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos. Significaria uma mudança radical na diplomacia norte-americana.

Numa entrevista à agência de notícias Reuters, Trump apresenta as linhas de ação para lidar com o regime da Coreia do Norte.

Primeiro, falaria diretamente com Kim Jong-un. Desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953, que os dois países não têm relações diplomáticas. A política de Washington tem sido a de isolar o regime de Pyongyang, sobretudo através de sanções económicas em resposta ao programa nuclear do país.

Em contrapartida, a Coreia do Norte multiplica as provocações e ameaças. Com a Administração Obama, qualquer contacto entre os dois países é feito entre segundas linhas, não a um nível presidencial.

Questionado sobre se iria incutir bom-senso ao líder norte-coreano, Trump arriscou: “Absolutamente”.


Em segundo lugar, Trump apostaria na pressão à China, o único grande aliado da Coreia do Norte: "A China pode resolver o problema com um encontro ou com um telefonema”.Trump escusou-se a partilhar mais pormenores sobre os planos para lidar com a Coreia do Norte.

“Colocaria imensa pressão sobre a China, porque economicamente temos um tremendo poder sobre a China. As pessoas não têm noção disso”, reclamou o republicano.

Um jornalista argumentou que a Coreia do Norte tinha armas nucleares, ao que Trump respondeu que sabia disso e que a China também as tem.

Os primeiros testes nucleares da Coreia do Norte realizaram-se em 2006, contra tratados internacionais, e desde aí o regime de Pyongyang tem feito repetidas ameaças de ataques contra a Coreia do Sul e Estados Unidos.
Silêncio asiático

A Reuters tentou obter reações à posição do agora único candidato à nomeação presidencial do Partido Republicano. Da missão norte-coreana nas Nações Unidas não obteve qualquer resposta.

Um elemento do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul não quis responder diretamente às palavras de Trump, acrescentando apenas que Seul e Washington estão apostadas na desnuclearização, insistindo na necessidade de a Coreia do Norte cessar as ameaças.

No mês passado Trump sugeriu que os Estados Unidos parassem de prevenir que os aliados Japão e Coreia do Sul tivessem acesso a armas nucleares, contrariando uma longa política dos EUA de aposta de não-proliferação destas armas, lembra a BBC.
"Não faz qualquer sentido"

Já a campanha de Hillary Clinton foi mais expressiva. Um dos elementos do staff da democrata criticou o adversário republicano, notando que recentemente Trump disse que provavelmente não teria uma boa relação com o primeiro-ministro britânico David Cameron, depois das críticas que este lhe dirigiu sobre a proposta de banir a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.

“Deixem-me ser claro: Donald Trump insulta o líder do país que é o nosso maior aliado e depois vira-se e diz que gostaria muito de falar com Kim Jong-un?”, questiona Jake Sullivan, conselheiro de política externa de Clinton. “Trump parece ter uma bizarra fixação com estrangeiros como Putin e Kim. Mas a sua abordagem à política externa não faz qualquer sentido”.

Na entrevista à Reuters, todavia, Trump manifesta a certeza de que virá a ter uma boa relação com Cameron.

Já em relação a Putin o discurso da entrevista não foi em tom tão elogioso como anteriormente. Desta vez expressou desaprovação pela ação militar do Presidente russo na Ucrânia.

Donald Trump garantiu ainda que na sua agenda enquanto Presidente estaria a intenção de renegociar o acordo sobre o clima, conseguido por mais de 170 países em Paris, bem como a intenção de pôr fim à regulamentação financeira no sentido de tentar reduzir os riscos do sistema financeiro norte-americano.
Tópicos
pub