Parlamento turco levanta imunidade de 139 deputados

por RTP
Parlamentares do HDP reagem à votação que acabou com a sua imunidade. Umit Bektas, Reuters

A votação de hoje pode constituir o intróito para uma vaga de processos e para purgar o parlamento turco do importante partido pró-curdo HDP (Partido Democrático do Povo). A maioria parlamentar colocou o parlamento à mercê do presidente Erdoğan.

O diário conservador turco Hürryiet admite na sua versão em língua inglesa que se tratou de uma "controversa emenda constitucional", que agora deixa o país na expectativa de uma vaga de prisões contra 139 eleitos, sob a acusação de "terrorismo" ou de cumplicidade com o "terrorismo".

A emenda teve de ser votada em duas voltas. Na primeira, recolheu os votos de 357 deputados - os do partido governamental, o islamista AKP, do presidente Recep Tayyip Erdoğan; e os do ultra-direitista MHP.
Votos favoráveis na segunda volta

AKP - 316
MHP - 40
CHP - 20
Total - 376

Mas precisava de 367 votos para dispensar a consulta ao eleitorado por meio de referendo. E o partido de centro-direita, CHP (Partido Republicano do Povo), receando as convulsões sociais que poderiam acompanhar um referendo de alto risco, votou na segunda volta a favor do levantamento da imunidade dos colegas deputados, ajudando a perfazer um total de 376 votos favoráveis - sete além da maioria exigida no total de 550 assentos que conta o parlamento turco.

O embaraçado líder da bancada do CHP, Özgür Özel, explicava a reviravolta dizendo: "Não tomámos uma decisão de grupo na primeira volta nem a tomámos na segunda volta. A partir de agora, isto tornou-se uma decisão do parlamento e não de deputados individuais ou de partidos".

O chefe de bancada do AKP, por seu lado, festejou a aprovação da proposta apresentada pelo seu partido felicitando todos os deputados que tinham votado favoravelmente.

Erdoğan fizera campanha pública para que o parlamento aprovasse a proposta do seu partido, afirmando em discurso pronunciado durante uma digressão pela província de Rize, na costa do Mar Negro, que o povo não quer deputados "criminosos" no parlamento e portanto esperava a aprovação da proposta.

Assim que a emenda constitucional for publicada no diário da República, os 139 deputados do HDP tornar-se-ão arguidos de 682 processos já em curso. Haverá 200 procuradores dedicados a este combate do Estado contra a mais significativa minoria política do parlamento.

Além dos deputados, serão arguidos três líderes partidários. O dirigente do HDP Kemal Kılıçdaroğlu tem 41 processos contra ele. A segunda figura do partido, Selahattin Demirtaş, tem igualmente 41 processos. E um outro dirigente, Devlet Bahçeli, tem nove processos.
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