Poluição atmosférica na China causa 4.000 mortes por dia

por RTP
Kim Kyung-Hoon, Reuters

O crescimento económico com taxas de dois dígitos tem um preço humano devastador. Doenças cardiovasculares, cancro, bronco-pneumopatias crónicas obstrutivas e infeções das vias respiratórias inferiores causam na China mais de 1,6 milhões de mortes por ano.

Partículas finíssimas suspensas no ar, com um diâmetro de inferior a  2,5 micrómetros, anicham-se profundamente nos pulmões e são causadoras de numerosas doenças. Em seis mortes prematuras que ocorrem na China, essas doenças são responsáveis por uma. Os 1,6 milhões de vítimas correspondem a uma média de 4.000 mortes prematuras por dia.

Estas são as conclusões de um estudo da Universidade de Berkeley, Califórnia, que vai ser publicado na próxima semana na revista científica Plos ONE, e que hoje se encontra referido no diário francês Le Monde.

Estimativas anteriores da revista científica The Lancet já indicavam elevadíssimas taxas de mortalidade atribuíveis à poluição atomsférica: 1,2 milhões por ano, em 2012.

A novidade do estudo da Universidade de Berkeley está em ter utilizado os indicadores sobre a qualidade do ar resultantes de medições das próprias autoricades chinesas. Os cientistas norte-americanos Richard Muller e Robert Rohde fizeram o estudo a partir de 1.500 estações de medição distribuídas por todo o país e acharam este número, aplicando aos níveis de poluição encontrados os multiplicadores da Organização Mundial de Saúde, que relacionam esses níveis com a mortalidade.

No estudo, apurou-se que nos quatro meses de 5 de Abril a 5 de Agosto do ano passado 92 por cento da população tinha inspirado um ar "insalubre" e qur 38 por cento estivera exposto a esse ar ininterruptamente durante os quatro meses.

Muller afirma a esse respeito: "Aquando da minha última visita a Pequim a poluição tinha atingido um nível perigoso: cada hora de exposição reduzia em 20 minutos a minha esperança de vida".

O Governo chinês anunciou entretanto medidas como o encerramento de centenas de centrais a carvão até 2017, projectando substituir essa fonte de energia altamente poluente por gás e energias renováveis. Mas este anúncio é contrabalançado pelo de um projecto para criar, no lugar de Pequim, uma megalópole com 130 milhões de pessoas.

O tema ambiental continua a ser um dos calcanhares de Aquiles do galopante crescimento económico da China - mesmo quando este começa a dar sinais de afrouxar, causando sucessivas desvalorizações do yuan e perturbações nas bolsas de todo o mundo.
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