Putin lança livro sobre judo com amigo citado nos Panama Papers

por RTP
Alexsey Druginyn, Reuters

O presidente russo Vladimir Putin, praticante de judo desde há várias décadas, anunciou o lançamento de um livro sobre os fundamentos desta modalidade que vai ser distribuído às crianças russas nos primeiros anos de escola. O livro tem como co-autor Arkady Rotenberg, um oligarca e amigo de longa data que ganhou biliões de dólares em contratos com o Kremlin.

O livro de Putin sobre os fundamentos desta arte marcial - que se tornou numa popular modalidade desportiva - faz parte da cerimónia que consagra a equipa russa de judo que vai participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a partir de 5 de Agosto.

Não se trata do primeiro manual de judo escrito por Vladimir Putin, um praticante de longa data e cinto negro (oitavo dan). O presidente russo tem nas prateleiras vários livros em co-autoria. Desta vez entrou numa parceria com Arkady Rotenberg e outros dois mestres, numa edição da Enlightenment, editora pertencente a Rotenberg e que só numa renovação da bibliografia escolar do ensino russo arrecadou em 2014 até 70% dos novos contratos para publicação de manuais.

E este é o elemento que não sendo novo mais chama a atenção na nova obra de Putin sobre o desporto também chamado de “via da suavidade”, todo um antónimo da forma como é visto o modus operandi do Putin político. Arkady Rotenberg é conhecido como um dos oligarcas privilegiados do círculo próximo do presidente e velho parceiro de treino nos tapetes de São Petersburgo. Arkady, irmão de Boris, também ele amigo de Putin desde a década de 1960.
Os irmãos Rotenberg
Os dois irmãos enriqueceram graças aos milhares de milhões de dólares em contratos na construção, oleodutos e outra espécie de negócios; contratos que lhes caíram no colo fruto das suas relações pessoais com a alta nomenclatura russa, nomeadamente o presidente, rezam as acusações que podemos ler na imprensa dos últimos anos.

Um desses contratos tem a ver com a preparação de infraestruturas para os Jogos Olímpicos de Sochi. Os irmãos Rotenberg embolsaram na altura 7 mil milhões de dólares, de acordo com um relatório do Tesouro dos Estados Unidos, o Ministério das Finanças norte-americano.

Em 2014, a invasão russa da Ucrânia valeu a Moscovo sanções quer da União Europeia quer dos Estados Unidos. Na lista de nomes constavam os irmãos Rotenberg (Arkady em ambas, Boris apenas na norte-americana) e outros membros do Kremlin que mantêm uma relação estreita com o presidente Putin.

Na verdade seria a Putin que apontavam as sanções, já que os nomes alvo das medidas europeias e norte-americanas são amigos muito próximos do líder russo. Os Rotenberg são mesmo vistos como uma espécie de testa de ferro do presidente, irmãos que merecem toda a sua confiança e que agem sob as suas ordens directas.

Uma estrutura encabeçada por Sergey Roldugin, dito melhor amigo de Putin, padrinho da sua filha mais velha e dono de uma fortuna que não se coaduna com o seu percurso profissional, apesar da fama que granjeou como violoncelista. É dito que apenas funciona como guardador do dinheiro e que Putin é o seu verdadeiro dono.
Boris, Arkady e os Panama Papers
Não inesperadamente, Boris e Arkady Rosenberg são dois dos nomes que podem ser pesquisados na base de dados da Mossack Fonseca, a empresa cujos leaks deram origem ao escândalo Panama Papers. Roldugin também aparece.

Em 2013, uma das empresas de Arkady terá beneficiado de um contrato com o Estado no valor de 40 mil milhões de euros para a construção de um gasoduto entre a Rússia e a Europa. Na mesma altura, pode ler-se num artigo de Abril do The Irish Times, três companhias anónimas fizeram vários depósitos no que chamam de “rede de Putin”, uma conta sedeada em São Petersburgo, num banco chamado Rossiya, que os norte-americanos apelidaram de mealheiro de Putin.

As verbas que chegaram das empresas dos Rotenberg ultrapassaram os 231 milhões de dólares e seguiram para uma empresa sedeada nas Ilhas Virgens Britânicas.

A alegada rede de Putin, assinalam vários jornalistas que vêm escrevendo sobre o presidente russo, terá sido organizada em torno de velhas amizades, muitos deles companheiros de tapete: por exemplo Gennady Timchenko, fundador do Gunvor Group e com uma fortuna pessoal 13 mil milhões de dólares; ou Viktor Zolotov, o seu guarda-costas pessoal, recentemente nomeado chefe da Guarda Nacional.
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