Reclusos do Texas podem ler livros de Hitler, mas não de Shakespeare

por RTP
Lucy Nicholson - Reuters

O Departamento de Justiça Criminal do Texas (TDCJ) possui uma lista de 15 mil livros censurados que não podem fazer parte das bibliotecas das prisões estatais. Os 140 mil reclusos texanos estão, assim, proibidos de ler obras consideradas desviantes, entre as quais poesia. Porém, o Mein Kampf de Hitler é permitido.

Wolf Boys, de Dan Slater, foi um dos mais recentes livros a entrar na lista pois, segundo o TDCJ, “contém informação sobre como esconder e traficar droga”. As autoridades deram especial relevância à passagem do livro que conta como vários jovens texanos esconderam droga na engrenagem de um veículo antes de passarem a fronteira. O autor classificou este sistema de censura como “agressivo e aleatório”, manifestando-se contra a arbitrariedade que comanda o processo de seleção de obras censuradas.

Apesar de concordar que existem razões plausíveis para proibir algumas obras, Slater critica o facto de serem os agentes estatais a rever os livros que podem dar entrada nas prisões. Afirma que o TDCJ não oferece aos agentes qualquer preparação para tal e que, por vezes, estes nem sequer possuem habilitações literárias.

Esta arbitrariedade na tomada de decisões resulta numa série de contrasensos. Os reclusos têm acesso a um livro de Hitler ou à obra antissemita de David Duke (antigo líder do Ku Klux Klan), mas não à poesia de Shakespeare ou ao livro do antigo senador Bob Dole acerca da Segunda Guerra Mundial.
O diretor da Prison Legal News, Paul Wright, afirma que a lista de obras censuradas continuará a “aumentar exponencialmente” e que, “quando um livro entra na lista, não volta a sair".
Um relatório do Projeto de Direitos Civis do Texas, organização que defende que os reclusos têm direito à leitura, afirma que o TDCJ apenas deve censurar os livros que contenham informação sobre contrabando, redes criminosas, produção de explosivos, drogas, armas ou conteúdos sexuais. Ou seja, obras cuja leitura “prejudique a reabilitação dos prisioneiros”. O mesmo relatório admite que, muitas vezes, o material literário é interpretado fora de contexto e censurado sem razão aparente.

Deborah Stone, diretora-adjunta no norte-americano Office for Intellectual Freedom, afirma que os reclusos que leem têm tendência a possuir melhor comportamento e a reabilitar-se mais rapidamente. Já Dan Slater declara acreditar no “poder do conhecimento” e naquilo que os livros podem fazer por pessoas “que estão em baixo e sentem uma ligação com a história”, como é o caso dos prisioneiros.
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