Os restos da sonda Rosetta viajarão agora no espaço, no solo do cometa 67P Créditos ESA/DR

Rosetta: 2004-2016, doze anos de uma viagem incrível

Foi com gritos de alegria e lágrimas de tristeza que os cientistas da Agência Espacial Europeia receberam hoje a notícia de que a sonda Rosetta atingiu o cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko. Alegria por mais um passo na exploração espacial. Tristeza porque terminou assim uma missão que durava há 12 anos.

Eram 12h20 quando a missão da sonda europeia Rosetta chegou a fim. A história podia fazer parte de um conto épico. Na verdade, estamos a falar do fim de duas pequenas sondas que partiram da Terra e realizaram uma longa viagem de 12 anos atrás de um cometa que viajava em direção ao sol.

Seguiram para o espaço em março de 2004. A viagem era longa e difícil. Mas carregava em si um objetivo pioneiro: orbitar um cometa.



A sonda Rosetta, que transportava no seu seio uma sonda mais pequena, a Philae, antes de chegar ao destino final teve que fazer uma série de ajustes programados à sua viagem. Em setembro de 2008 fez uma passagem pelo asteróide Steins, a uma distância aproximada de 802 quilómetros e, mais tarde, em julho de 2010, cruzou-se com o asteróide Lutetia, mas a uma distância maior - 3.162 Km.


Faltavam ainda quatro anos até ao derradeiro encontro e as ordens vindas da Terra eram para hibernar e não gastar energia. O que aconteceu entre junho de 2011 e janeiro de 2014.



Os cientistas depositavam então uma enorme esperança na missão e esperavam encontrar um objeto gelado e oval, mas o que a Rosetta encontrou não foi nada disso. O cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko era mais um bloco negro, poroso, que se assemelhava a um pato de borracha e, descobriu-se depois, a sua cauda era composta por muito pó.



6 de agosto de 2014, a Rosetta chegava finalmente ao destino.

Primeiro realizou uns ajustes orbitais, triangulares, de forma a estabelecer uma órbita estável em redor da pequena massa rochosa.  Aproveitou esse tempo para dar conta de como era este cometa, a sua forma, rotação e composição inicial.

Dados que, esperava-se, seria complementados quando existisse condições para depositar no solo do 67P a pequena sonda Philae.

No centro de controlo da missão europeia o sentimento era de que nada podia correr melhor. Os cientistas estavam maravilhados com as imagens enviadas através da câmara de alta resolução Osíris, instalada no corpo maciço da Rosetta. Mas, apesar de tudo correr de feição, surgia agora um momento muito delicado. Colocar a pequena Philae no solo do cometa.

Estudaram-se centenas de fotos do 67P, onde se podia ver várias crateras escuras e pequenos planaltos. A rotação do cometa não ajudava à missão, mas esse fator não desmoralizava a comitiva científica.

10:23 GMT do dia 13 de novembro de 2014. A ordem era dada à sonda mãe Rosetta: “Liberta a Philae e deixa-a voar em direção ao cometa”.


O momento era de tensão, e de espera, uma vez que passou cerca de uma hora entre o sinal emitido pela Terra e a resposta de confirmação pela sonda.

As imagens recebidas davam conta do sucesso da ordem e a pequena sonda, do tamanho de uma máquina de lavar doméstica, descia lentamente em direção ao agreste Churiumov-Gerasimenko.

Mais tarde, as notícias que chegavam dos longínquos 510 milhões de quilómetros da Terra ao centro de controlo da Agencia espacial Europeia não eram as melhores. A Philae tinha conseguido aterrar, mas não no local previsto. A pouca força gravitacional exercida pelo 67P não permitiu um pouso mais “energético” e os ganchos de fixação da pequena sonda não conseguiram fixar-se ao solo.


A Philae, após um primeiro toque no cometa, saltou como uma pequena bola de borracha salta na terra e voou para outro ponto.

À segunda tentativa, o mesmo problema, e volta a saltar. Acabou num local ermo e com uma janela de luminosidade reduzida. Sem luz solar para alimentar o normal funcionamento, a ESA viu-se obrigada a reduzir as operações da pequena Philae ao mínimo. No centro de controlo da missão Rosetta, na Terra, o pessoal cientifico não sabia exactamente onde a Philae estava, mas sabia que estava funcional, pois comunicava. Procuraram todas as soluções para tirar a Philae do "buraco" onde se encontrava, mas sem sucesso.



A missão, apesar do sucesso imediato em que pela primeira vez se conseguia aterrar um objeto humano num cometa, sofria desta forma um enorme revês.

Dois dias e meio depois de várias tentativas fracassadas, a ESA diz à Philae para hibernar e para esperar, sob um gélido e inóspito Espaço,  até que o 67P estovesse mais próximo do Sol. Sem luz não haveria energia.

Já com o cometa a sentir a força dos ventos quentes solares, a ESA tentou mais do que uma vez contatar com a Philae que, escondida, continuava a não dar sinais de vida. Mas sete meses depois, eram 20h28 GMT, no dia 13 de junho de 2015, surge um sinal vindo da superfície do cometa.

A Philae estava "viva", inteira, mas a luz que chegava aos painéis solares instalados no dorso não era suficiente para ajudar na missão que lhe estava destinada.


Após várias semanas de busca a Philae é encontrada numa reentrância escura do 67P. Créditos:ESA/DR

O centro de controlo lançou ordens para que a pequena sonda saltasse, mas uma vez mais o efeito que se pretendia não surtiu efeito. Os cientistas foram da ESA foram obrigados a deixar a sonda viver os seus últimos momentos de vida.



A sonda mãe, a Rosetta, fonte retransmissora dos sinais da Philae, continuava forte e ativa em órbita do Churiumov-Gerasimenko. De tal forma que a ESA decidiu prolongar a missão mais uns meses. A Rosetta realizou entretanto milhares de fotografias de alta resolução e estudou, o quanto podia, tudo o que os instrumentos de bordo lhe permitiam fazer.

Fotos finais enviadas pela sonda Rosetta antes de se despenhar no cometa 67P/Churimov-Gerasimenko. Créditos: ESA


Hoje, passados 4261 dias, às 14h26 GMT, a sonda europeia Rosetta deu o seu último sinal de existência, chegando ao fim da sua histórica missão com um “mergulho” controlado sobre o cometa que acolheu as duas sondas terrestres e que agora lhe serve de casa celestial final.


Imagem do último sinal emnviado pela Rosetta recebida pelo centro de controlo da ESA. Créditos: ESA/DR

Os 12 anos de missão europeia Rosetta custaram cerca de 3,5 euros a cada cidadão europeu, num total aproximado de 13 mil milhões de euros. Mas o preço científico obtido com toda esta experiencia será talvez impossível quantificar. Os dados recolhidos ao longo de toda a missão ainda têm muito a revelar sobre os segredos profundos deste Universo. Mais do que tudo, a Rosetta mostra que a humanidade ainda tem muito para explorar.