Rússia ameaça aplicar garrote económico à Turquia

por Inês Geraldo - RTP
Reuters

Vladimir Putin ameaçou a Turquia com pesadas sanções económicas depois de um avião militar russo ter sido abatido pela Força Aérea turca. Recep Tayyip Erdogan fala de uma reação "emocional" e completamente desaquada.

A Rússia já fez saber que ainda espera por um explicação "razoável" para o abate de dois caças russos, que supostamente voavam em espaço aéreo turco.

Os russos negam esta versão e explicam ter apenas voado em espaço sírio, apesar de os turcos afirmarem ter avisado os aviões dez vezes num espaço de cinco minutos.

A guerra de palavras entre os dois países está a subir de tom e a Rússia acusa a Turquia de estar a comprar petróleo ao Estado Islâmico, nos territórios da Síria, no que Recep Tayyip Erdogan declarou que são Bashar Al-Assad e aliados os verdadeiros financiadores do grupo terrorista.
Troca de acusações
A ação turca sobre aviação russa enfureceu Moscovo. No entanto, na Rússia a maneira como se prepara a resposta à Turquia é pensada com muito cuidado. Não existe conflito militar e os russos procuram agregar apoio internacional para aceitar a sua visão de como se pode resolver o conflito na Síria.

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Para isso, a economia está a ser o meio utilizado para uma vingança sobre a Turquia.

O Kremlin continua a dizer que espera uma explicação para o que aconteceu na última terça-feira, insistindo que os seus aviões voavam sobre a Síria e que "nem por um segundo" sobrevoaram a Turquia.

Erdogan responde que o que aconteceu foi uma "reação automática" ao que contituiu uma violação clara de território turco e declarou que é a Rússia que tem de se desculpar.
Envolvimento com o Daesh
Dmitry Medvedev, o primeiro-ministro russo, afirmou que a Turquia compra petróleo ao autoproclamado Estado Islâmico em território sírio, tendo Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros, declarado que não era segredo que "os terroristas usavam território turco" para os seus intentos.



Recep Tayyip Erdogan contestou de imediato as declarações vindas do Kremlin, dizendo que é percetível onde a Turquia se abastece com petróleo e gás.

"Tenham vergonha, é mais do que claro onde a Turquia compra petróleo e gás. Aqueles que afirmam que o fazemos ao Daesh têm de provar as acusações. Ninguém pode destratar este país", disse o Presidente turco.

"Se estão à procura da fonte de armamento e financiamento do Daesh, o primeiro lugar a procurar é a Síria, o regime de Bashar al-Assad e os países que compactuam com ele".

A Turquia acusa também a Rússia de bombardear grupos moderados, inimigos de Assad, em regiões onde a presença do Estado Islâmico é mínima, para elevar o regime sírio.
Medidas russas para desinvestir na Turquia
Depois do sucedido, vários ministros russos anunciaram que estão a pensar tomar medidas para acabar com alguns investimentos que estavam a ser realizados em território turco.

Medvedev declarou que alguns dos maiores negócios podiam ser cancelados e que restrições na importação de comida vinda da Turquia podem ser colocadas em prática.

O ministro russo da Economia, Alexei Ulyukayev, avisou por sua vez que a Rússia pode colocar limites nos voos para a Turquia e parar negócios de grande envergadura, como um túnel de gás e a construção de uma fábrica de energia nuclear, com custos a rondar os 20 mil milhões de dólares.

A cooperação militar entre os dois países também foi suspensa, com as informações sobre ataques aéreos na Síria a não serem partilhadas.

O turismo é também um dos sectores que a Rússia pretende usar para atacar os turcos. Duas grandes empresas russas de turismo já retiraram de venda pacotes de viagens para a Turquia, depois de oficiais terem aconselhado turistas a não saírem para o país.

Depois dos alemães, são os russos que mais visitam a Turquia, criando receitas na ordem dos quatro mil milhões de dólares.

O primeiro-ministro russo anunciou também que a importação de comida vai ser cortada nos próximos dias, o que não deixará de afetar os produtos agrícolas turcos.
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