Em 1975, Henry Kissinger preparava-se para o cenário de um regime socialista em Portugal e queria boicotá-lo de tal maneira que o resto da Europa ficasse vacinado à vista dessa experiência desastrosa. Hoje, o multimilionário George Soros mostra-se apreensivo perante a possibilidade de Bruxelas estar a querer fazer do "Brexit" uma vacina contra outras saídas da União Europeia.
E prossegue: "Com a UE a absorver metade do comércio externo britânico, o impacto sobre os exportadores poderia ser devastador (apesar de uma taxa de câmbio mais competitiva). E, com as instituições financeiras a relocalizarem as suas operações e pessoal para centros da zona euro nos próximos anos, a City of Londres (e o mercado imobiliário de Londres) não serão poupados à dor".
Ao longo de artigo, Soros manifesta a sua perplexidade por o eleitorado britânico ter optado pela saída quando era o Reino Unido que "tinha o melhor dos acordos possíveis com a União Europeia". Se alguém tinha motivos para ficar era precisamente o Reino Unido. "E no entanto - sublinha Soros - isso não foi suficiente para impedir o eleitorado do Reino Unido de votar pela saída".
À pergunta de "porquê?", adianta Soros uma resposta: foi a deterioração da crise dos refugiados que alimentou o medo de uma imigração "descontrolada" e a campanha do "Brexit". Mas há, além da crise objectiva, uma responsabilidade da UE: "As autoridades europeias adiaram decisões importantes sobre política de refugiados para tentarem evitar o seu efeito negativo sobre a votação do referendo britânico, perpetuando assim cenas de caos como a de Calais".
Finalmente, o atentismo da UE em relação aos refugiados acabou por pesar no resultado de uma votação "tornando a desintegração da UE praticamente irreversivel".
E profetiza: "O 'Brexit' vai abrir os diques para outras forças anti-europeias dentro da União".