Tensões em Bangui fizeram mais de 36 mortos

por RTP
A guerra civil na República Centro-Africana dura desde março de 2013, quando milícias muçulmanas Séleka derrubaram o então Presidente François Bozizé, iniciando o massacre das populações cristãs. Estas reagiram com igual violência organziando grupos armados. Goran Tomasevic - Reuters

A Presidente interina do Bangui, Catherine Sampa Panza, que está em Nova Iorque para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas e que deverá regressar ainda hoje ao país, apelou à calma.

"Lanço um apelo à calma a vós, meus compatriotas. Peço-vos para regressarem a casa. Sei que, quando me dirijo a vós, vós me escutais", afirmou a Presidente numa mensagem enviada esta manhã e difundida na rádio nacional.

"Nós veremos juntos como sair destas novas violências", disse ainda Catherine Panza na sua mensagem.

Bangui, a capital da República Centro-Africana é há três dias palco de confrontos étnicos que fizeram já 36 mortos, de acordo como o Alto-Comissariado para os refugiados.

A organização Médicos Sem Fronteiras estimou segunda-feira a ocorrência de 21 mortos e de "mais de 100 feridos", enquanto a Unicef refere "uma trintena de mortos".
Confrontos e pilhagens
Foi o assassínio, sábado, de um condutor muçulmano de moto-táxi que incendiou os protestos em Bangui. A morte provocou represálias com granadas e tiros por parte da comunidade muçulmana contra os bairros cristãos. Seguiram-se pilhagens em vários bairros

A cidade está paralisada por barricadas mantidas por habitantes que exigem a demissão da Presidente depois da violência durante o fim-de-semana.

Vários grupos anti-balaka, as milícias cristãs e animistas que combatem as milícias muçulmanas Séleka, invadiram Bangui na segunda-feira à  noite.

"Posicionaram-se por grupos, armados com machetes, nas ruas do 8º e do 5º bairros", relatou à Agência France Presse um dos raros habitantes que se aventurou fora de casa. Afirma que os grupos estão colocados próximo do bairro comercial da cidade, o PK-5, que representa o último bastião muçulmano em Bangui.
População em fuga
As forças internacionais, da ONU, Minusca e de França, Sangaris, isolaram e defenderam o Palácio Presidencial assim como alguns dos bairros mais problemáticos da cidade. Um soldado francês alvejado domingo ficou "ligeiramente ferido e foi enviado de volta a França" indicaram fontes militares em Paris.

Muitos habitantes mantém-se fechados em casa com medo de ataques. Cerca de 27.000 abandonaram a cidade e refugiaram-se nos campos de deslocados mantidos pela Cruz Vermelha Internacional em redor de Bangui, sobretudo perto do aeroporto onde se baseiam as forças internacionais.

Os edifícios de diversas organizações humanitárias foram alvo de tentativas de pilhagens durante a noite, tendo os atacantes sido repelidos pela polícia nacional. Entre os locais afetados esteve o PAM, Programa Alimentar Mundial.
Presidente acusa antigos líderes
A Presidente Catherine Sampa Banza, entrevistada pela Radio France Internacional - RFI, apontou o dedo a "antigos dignatários que pretendem regressar ao poder e que pensam que, desestabilizando o país, o terreno lhes será mais favorável para regressar ao poder, porque sabem que não podem enfrentar um processo eleitoral".

Banza referia-se ao ex-Presidente François Bozizé, afastado em março de 2013 e ao líder das milícias Séleka, Michel Djotodia, ambos sancionados internacionalmente. Nenhum dos dois se deverá candidatar às eleições presidenciais e legislativas previstas no país a partir de outubro de 2015.

Bozizé foi deposto pelas milícias muçulmanas Séleka, num golpe de Estado que mergulhou a antiga colónia francesa nos piores massacres entre as comunidades muçulmanas e cristãs desde os anos 60 do século passado.
Referendo e eleições em outubro
As milícias Séleka foram combatidas pelos grupo anti-balaka (anti-espada ou anti-machete nas línguas locais), cristãs e animistas, que se dedicaram nos últimos meses a perseguir os habitantes muçulmanos que permaneceram em Bangui após o derrube dos Séleka.

As forças internacionais que mantêm os confrontos no mínimo não conseguiram contudo desarmar os grupos e continua a haver confrontos. 

Um referendo sobre a adoção de uma nova Constituição está marcado para o próximo dia 4 de outubro. Mas as operações de recenseamento estão incompletas, quando a primeira volta das Presidenciais está marcada para 18 de outubro.

"Vamos manter os nossos compromissos para organizar estas eleições nas melhores condições possíveis em 2015" garantiu apesar de tudo a Presidente à RFI.
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