Tribunal dos EUA condena militar chileno pelo assassínio de Victor Jara

por RTP
Vigília evocativa de Victor Jara Reuters

Um tribunal da Florida condenou Pedro Pablo Barrientos, actualmente cidadão norte-americano, a pagar 28 milhões de dólares à família do cantor chileno Victor Jara, assassinado na sequência do golpe de Pinochet.

O tribunal da cidade de Orlando considerou Barrientos responsável pela tortura e assassínio do popular cantor, que estivera detido pelos militares no estádio de Santiago do Chile, logo após o golpe do general Augusto Pinochet. O golpe, ocorrido em 11 de Setembro de 1973, tivera um saldo de mais de 3.000 mortos nos dias imediatamente a seguir, e contara com o patrocínio do secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger e com o activo envolvimento de multinacionais norte-americanas como foi o caso especialmente notório da ITT.

Segundo o New York Times, o antigo tenente Pedro Pablo Barrientos, depois emigrado para os Estados Unidos e naturalizado cidadão norte-americano, negou sistematicamente os factos de que vinha acusado.

Mas um dos testemunhos, apresentado em tribunal pelo antigo soldado José Navarrete, apresentado referiu que ele se vangloriara de ter matado Víctor Jara: "Ele costumava mostrar a pistola e dizer: 'Matei Víctor Jara com isto". O corpo do cantor apareceu mais tarde, crivado com 44 balas. Navarrete apresentou o seu testemunho através de uma gravação, porque disse recear retaliações se se deslocasse ao tribunal.

Um outro soldado, Gustavo Baez, que testemunhou através de gravação, alegando o mesmo motivo, referiu que estava no regimento comandado por Barrientos e teve de empilhar dezenas de cadáveres em camiões. Dois antigos prisioneiros recordaram as violências testemunhadas no estádio e o momento em que Jara foi reconhecido pelos militares, separado dos outros e violentamente espancado.

Um deles, Boris Navia, acrescentou: "Nessa noite, o Víctor foi exibido perante os outros oficiais como um troféu". E recordou como um deles lhe esmagou a mão e partiu o braço, dizendo: "Nunca mais vais poder tocar guitarra". Dias depois, em 15 de Setembro, o mesmo Navia foi transferido do estádio para uma prisão e, à saída, viu duas a três dezenas de cadáveres e entre eles reconheceu o de Jara.

Barrientos esteve em paradeiro desconhecido até meados de 2012, vindo nessa altura a ser descoberto na Florida por uma equipa da televisão chilena. Em Dezembro desse ano, um juiz chileno acusou-o do assassínio de Jara, como réu revel, e pediu a sua extradição. Esta não foi concedida na altura e continua ainda hoje por decidir.

A defesa de Barrientos tratou de apresentá-lo como um imigrante que fora para os Estados Unidos nos anos 1990, não para fugir à Justiça, mas para viver o "sonho americano" com uma vida a trabalhar no duro. Actualmente Barrientos tem a profissão de cozinheiro. Mas ficou provavdo em tribunal que, ao requerer o passaporte norte-americano, Barrientos ocultou o seu passado militar.

A família de Victor Jara festejou esta primeira vitória, num processo civel, em que a condenação se traduz em indemnização, e não numa pena de prisão. Mas a família e o seu advogado vão agora insistir para que Barrientos, de 67 anos, seja extraditado para o Chile para aí responder pelo assassínio de Jara.
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