Escândalo Casa Pia de 2002 até hoje

por Cristina Esteves

Só os números impressionam: quase seis anos de julgamento.
461 sessões, 981 testemunhas. Um processo que chegou a ter quase 70 mil folhas.

Carlos Cruz está a cumprir seis anos de cadeia pela prática de três crimes de abuso sexual de menores, mas sempre reclamou inocência.

O escândalo de pedofilia na Casa Pia de Lisboa rebentou em 2002, envolveu o nome de alguns políticos e expôs várias fragilidades no sistema jurídico. Foi uma das causas para a reforma penal de 2007.

Em Novembro de 2002, o motorista da Casa Pia, Carlos Silvino, foi o primeiro a ser detido sob suspeita de centenas de crimes de abusos sexuais de menores.

Pouco depois começam a surgir outros nomes. O mais mediático: Carlos Cruz. Foi às televisões reclamar inocência. Um acto de suicídio, diria mais tarde o Ministério Público.

A partir de Janeiro de 2003, outras detenções: Carlos Cruz; um embaixador, Jorge Ritto; um médico, Ferreira Diniz; um ex-provedor da Casa Pia, Manuel Abrantes; um advogado, Hugo Marçal; um deputado do PS, Paulo Pedroso.

O processo fica com 13 arguidos, alguns em prisão preventiva. Entre os 10 acusados por abusos sobre menores estava Herman José. Não chega a ser julgado , tal como Pedroso. O deputado também fica pelo caminho na fase da instrução do processo.

Mas as consequências ficaram para a História do partido e do país. As alterações às leis penais chegavam anos depois num governo socialista.

A 25 de Novembro de 2004 começa a primeira das quase 500 sessões de um julgamento que passou por quatro tribunais. No banco dos réus: sete arguidos. Todos, à excepção do motorista da Casa Pia, garantiam a inocência. Carlos Cruz, o mais mediático, respondia por seis crimes

Quase seis anos depois do inicio do julgamento, a decisão dos juízes: dois absolvidos e cinco condenados à cadeia entre os 18 e os quase seis anos - penas que os tribunais superiores diminuíram. Não foram provados os crimes de abusos em Elvas.

Carlos Cruz foi condenado a seis anos de prisão por três crimes de abusos sexuais de menores. Esgotados os recursos, entregou-se na prisão da Carregueira em Abril de 2013, já tinha 15 meses de preventiva.

É o preso 706, vizinho de Isaltino Morais e Vale e Azevedo. Um já saiu, outro continua por lá. Carlos Cruz já cumpriu mais de dois terços da pena. Viu os pedidos de liberdade condicional negados, por não assumir culpas nem arrependimento.

pub