Ricardo Salgado ouvido no Tribunal Central de Instrução Criminal para agravamento da medida de coação

por RTP
Rafael Marchante - Reuters

Depois de ouvido no Departamento Central de Investigação e Ação Penal no quadro da Operação Marquês, Ricardo Salgado dirigiu-se ao Tribunal Central de Instrução Criminal. Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República confirma que requereu ao TCIC “a aplicação de medida de coação diversa do Termo de Identidade e Residência". O TIR é a medida de coação menos gravosa prevista na legislação portuguesa.

O ex-presidente do Banco Espírito Santo foi constituído arguido no processo que também envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates. Salgado é suspeito da prática dos crimes de corrupção, branqueamento e fraude fiscal qualificada, entre outros.

A informação foi confirmada pela Procuradoria-Geral da República, numa nota enviada ao início da tarde às redações.

"O arguido é suspeito da prática de factos susceptíveis de integrarem os crimes de corrupção, abuso de confiança, tráfico de influência, branqueamento e fraude fiscal qualificada", refere o comunicado.
20.º arguido
Ricardo Salgado foi interrogado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal pelo procurador Rosário Teixeira e pelo inspetor da Autoridade Tributária Paulo Silva, responsáveis pela investigação Marquês.

"Na sequência deste interrogatório, o Ministério Público requereu ao juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal o interrogatório judicial do arguido, tendo em vista a aplicação de medida de coação diversa do termo de identidade e residência", esclarece a Procuradoria num novo comunicado, enviado às redações a meio da tarde.

Ricardo Salgado abandonou as instalações do DCIAP às 17h19, dirigindo-se então para o TCIC. O novo arguido da Operação Marquês percorreu os 120 metros que separam o DCIAP e o TCIC de carro. Cinco minutos depois, o procurador e o inspetor tributário também abandonaram o DCIAP.

Rosário Teixeira indicou à RTP que seguia para o Tribunal Central de Instrução Criminal, recusando-se a acrescentar mais informação.

Ricardo Salgado tornou-se esta terça-feira o 20.º arguido da operação. Carlos Santos Silva, Armando Vara, Joaquim Barroca, João Perna e Paulo Lalanda e Castro são alguns dos nomes envolvidos na investigação que já ditou a prisão preventiva – durante nove meses - do antigo primeiro-ministro socialista.

O antigo banqueiro já era arguido na Operação Monte Branco, desde julho de 2014, e também do processo do universo Espírito Santo desde julho de 2015.
Circuitos financeiros da ES Enterprises
No âmbito das investigações ao processo Espírito Santo, foram reconstituídos circuitos financeiros da Espírito Santo Enterprises. Através de uma carta rogatória, pedida às autoridades suíças, foram conhecidos os pagamentos a administradores de empresas com capital do BES e do Universo Espírito Santo, segundo apurou a RTP. Entre os administradores incluem-se os nomes de Zeinal Bava e Carlos Santos Silva.

Poderão estar em causa pagamentos de “luvas” feitos através de contas da Espírito Santo Enterprises por contrapartidas de decisões que terão sido tomadas na governação de José Sócrates.

Em causa estará a transferência de cerca de 17 milhões de euros em contas de Carlos Santos Silva, amigo do antigo chefe de Governo. Suspeita-se que grande parte dessa quantia tenha vindo de sociedades com ligações ao Grupo Espírito Santo.

De recordar que as conclusões da Operação Marquês deverão ser apresentadas em março de 2017. Em setembro último, a Procuradoria-Geral da República tinha cedido mais seis meses para a realização de novas diligências “consideradas imprescindíveis” ao processo.
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