SEF confirma que há refugiados que não querem vir para Portugal

por Cristina Sambado - RTP
Dois meses depois dos 14 Estados membros terem ajustado em reinstalar 160 mil refugiados, grande parte continua nos centros de acolhimento e registo em Itália e na Grécia Giorgos Moutafis - Reuters

O diretor nacional adjunto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Luís Gouveia, reconhece que o processo de recolocação de refugiados está a ter dificuldades devido à burocracia, mas também porque estes recusam viajar para Portugal. O primeiro grupo de 50 refugiados deve chegar a Portugal ainda antes do Natal, vindos da Itália e da Grécia.

“O processo de recolocação está a ter dificuldades. Atribuem-se responsabilidades às autoridades italianas e gregas, o que em parte é verdade, mas uma das principais razões tem a ver com os requerentes de asilo não quererem ser recolocados”, afirmou Luís Gouveia ao Diário de Notícias.

Segundo o jornal, Portugal disponibilizou-se para receber 4.754 refugiados, mas até ao Natal apenas 50 deverão chegar ao país. Até outubro, mais de 700 refugiados foram colocados em países europeus e existe um plano para mais de 160 mil serem distribuídos. Dois meses depois dos 14 Estados terem ajustado reinstalar 160 mil refugiados, grande parte continua nos centros de acolhimento e registo em Itália e na Grécia.

“A capacidade que temos vai além do que é preciso recolocar a partir da Itália e da Grécia”, acrescentou o diretor-nacional adjunto do SEF.

O Diário de Notícias acrescenta que “a esmagadora maioria dos requerentes de asilo que transitam pela Europa querem seguir para a Alemanha e Suécia, onde muitos têm família e/ou receberam a informação de que aí há trabalho e podem ter um bom nível de vida. A preferência vai sempre para os países do norte da Europa, a Península Ibérica é desconhecida. Recentemente tentou-se que 40 requerentes de asilo seguissem de avião para Espanha mas só 12 aceitaram”.

Recentemente, o embaixador português na Grécia, Rui Alberto Treno, foi a um campo de refugiados na ilha grega de Kos apresentar o país e explicar o que podem esperar quando chegarem ao país.

Luís Gouveia reconheceu, em declarações à Antena 1, que a alguns refugiados recusam vir para Portugal, por não conhecerem o país e também por existirem comunidades já instaladas noutros países.

“Obviamente, que havendo Estados membros onde já existem comunidades das nacionalidades em causa que estão integradas, e bem integradas, isso funciona como um fator de atração muito grande para aqueles que chegam à Europa”, afirmou.

Para Luís Gouveia é ainda necessário “não ignorar o facto de que há algum desconhecimento”, por parte dos refugiados, “relativamente a um número significativo de Estados membros”.

O diretor nacional adjunto do SEF acredita que é necessário vencer esta resistência inicial para garantir que Portugal receba os cinco mil refugiados propostos pela União Europeia.
Plataforma disponível para apoiar mais refugiados
A Plataforma de Apoio aos Refugiados não acredita que os refugiados não tenham interesse em solicitar apoio a países como Portugal ou Espanha. Rui Marques afirma que a plataforma está disponível para ajudar a desbloquear o processo de vinda destas pessoas.

“O argumento que os refugiados não querem ir para alguns países é universal. Não querem escolher nenhum país, não faz sentido”, afirmou Rui Marques à Antena 1.

Segundo o coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados, “há um bloqueio Europeu, quer em capacidade efetiva de fazer cumprir uma decisão tomada no Conselho Europeu de setembro, quer em vontade política dos diferentes Estados membros”.

Rui Marques considera que os atentados de Paris, no passado dia 13 de novembro, contribuem “seguramente” para agravar a situação.

“Porque a confusão que se instalou, na opinião pública, quanto a esta corelação que é feita, absolutamente iníqua e injusta, entre refugiados e terroristas deu forças aqueles que estão a bloquear o processo de acolhimento de refugiados”, rematou.
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