Exposição de fotografias evoca esplendor e queda da RDA

por RTP
Siegfried Wittenburg

A ditadura do SED tinha uma relação ambivalente com a fotografia: encorajava-a quando lhe parecia útil, mas submetia-a a vigilância quando a via inclinada a retratar realidades pouco gloriosas. Uma exposição fotográfica coincidente com a efeméride dos 25 anos sem Muro ajuda a entender esta ambivalência.

O organizador da exposição e autor das fotografias é Siegfried Wittenburg, nascido em Warnemünde em 1952, com formação de técnico de som, mas tendo depois, a partir de 1977, evoluído, como autodidata, para a actividade de fotógrafo.

Em 1981 levou a cabo a primeira exposição dos seus trabalhos e viu pela primeira vez alguns deles censurados pelas autoridades da RDA. A partir do ano seguinte foi director de um clube juvenil de fotografia.

A ditadura do SED tinha uma relação ambivalente com a fotografia: encorajava-a quando lhe parecia útil, mas submetia-a a vigilância quando a via inclinada a retratar realidades pouco gloriosas. Uma exposição fotográfica coincidente com a efeméride dos 25 anos sem Muro ajuda a entender esta ambivalência.


(Fotogaleria de Siegfried Wittenburg)

A partir de 1986, participou em diversas exposições colectivas na RDA e no estrangeiro, mas acabou por ser expulso da direcção do clube de fotografia, e proibido de exercer funções de direcção em qualquer organização idêntica, por ter recusado submeter-se a indicações censórias. Contudo, no ano seguinte foi autorizado a retomar essas funções.

Em 1988 deu início à primeira exposição livre de fotografia no Norte da RDA, no castelo de Güstrow e, já em 1989, criou em Rostock-Warnemünde, uma galeria de exposições fotográficas. Aí sofreu novo embate da censura.

Mas aproximava-se a passos largos o colapso da RDA: no Outono de 1989, participou nas manifestações em Rostock e fotografou-as abundantemente. As imagens que recolheu na altura são uma componente essencial da exposição que agora organizou.

Segundo Wittenburg, na RDA "a criatividade cultural da 'classe operária' era estimulada na medida em que se mantivesse um mundo de aparências. Mas várias fotografias, na sua precisão documental, mostravam também aquilo de que a população realmente não devia aperceber-se: a degradação das cidades, do ambiente, o contraste entre a aparência e a realidade". E conclui: "O trabalho com fotografias realistas era uma perigosa caminhada sobre o arame".

Também hoje, Siegfried Wittenburg continua um adicto da captação de imagens que digam alguma coisa sobre a realidade, e disso mesmo nos dá um exemplo numa série recente de fotografias que fez, em Maio de 2014, durante uma viagem turística a Portugal.

Sobre essa série, comenta que, "enquanto choviam golos [da Alemanha], uns atrás dos outros, contra Portugal, eu pensei várias vezes nas pessoas que lá vivem. Elas receberam-nos hospitaleiramente, mas notei como nos olham numa zona marginal da Europa. O futebol é um jogo, mas no dia a dia joga-se a vida. E é disso que falam as minhas fotografias".
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