Entrevista RTP. Marcelo diz que persistência de "pobreza" na sociedade é o maior fracasso dos últimos 50 anos

por Andreia Martins - RTP
Foto: José Sena Goulão - Lusa

Em entrevista à RTP, o presidente da República considerou que o envelhecimento e a persistência da pobreza são os maiores fracassos do país desde o 25 de Abril. Marcelo Rebelo de Sousa recorda ainda as semanas que antecederam a revolução e como viveu tudo o que se passou, na altura enquanto jornalista, ao mesmo tempo que o pai era ministro do regime.

Nas últimas décadas, Portugal não conseguiu acabar com a pobreza, ainda que esta não esteja ao nível de “outros tempos”. Marcelo Rebelo de Sousa considera que ficou na sociedade um “núcleo duro” de pobreza que chega atualmente perto de dois milhões de portugueses.

É esse o principal fracasso que o presidente da República aponta quando questionado sobre os últimos 50 anos, ainda que seja uma pobreza diferente à que existia anteriormente. O chefe de Estado menciona também o envelhecimento da população portuguesa.

Na entrevista a António José Teixeira, gravada no Palácio de Belém na última terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa recordou como viveu os dias da revolução. Na altura, como jornalista do Expresso, sentia os efeitos da censura e integrava-se em grupos onde se “conspirava para a democracia, a descolonização e a integração na Europa”, incluindo também a SEDES.

A nível familiar, recorda que se vivia, na altura, com “o relacionamento familiar que era possível estando em lados diferentes”. Baltazar Rebelo de Sousa, pai do presidente da República, era à época ministro das Colónias de Marcelo Caetano.

Marcelo recorda que, a poucos dias do 25 de Abril, o pai já tinha noção do desgaste do regime. Quando tiravam uma fotografia em família, a 16 de Abril, o pai do presidente já se via como “passado”.

O chefe de Estado, na altura jornalista, também tinha essa noção. “Não pressentia, sabia”, referiu nesta entrevista, recordando os contactos que havia com o general Spínola. Tudo não passava de uma questão de “acerto de datas” e estava-se atento ao que aconteceria “mais semana menos semana”.

Do lado do regime, a informação era “nula”. “Sabia que havia um movimento, não controlava o movimento, mas a própria polícia política não teve a noção”, algo que atribui ao “talento do Movimento dos Capitães” e à “amplitude das ligações e da organização”.

A 25 de Abril, contou a organização dos militares mas também o “apoio popular”, assinalou Marcelo.
“Implantar uma democracia demora tempo”
Marcelo Rebelo de Sousa fez, neste entrevista, um balanço positivo dos 50 anos da Revolução. Considerou que a “liberdade” e a “democracia” são as principais conquistas de Abril, muito pela emancipação que trouxeram.
Sobre o futuro, o presidente da República considerou que uma “sociedade democrática e livre é dinâmica, portanto muda”.

Apesar da pobreza persistente, Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que o país “mudou muito” em 50 anos, mas que “implantar uma democracia demora tempo”.

Nestas últimas décadas, Portugal passou rapidamente por várias transformações. “Fizemos tudo ao mesmo tempo, terminámos um império de cinco séculos, terminámos uma ditadura de 50 anos, criámos um estado com liberdade e democracia”, com várias mudanças económicas e uma veloz integração na Europa, nomeadamente com a integração na Zona Euro.

“Em 12 anos fizemos o percurso que grandes economias fizeram em 40”, ressalvou.

Destacou, como positivo, o “juízo global” dos portugueses que continuam a considera que o 25 de Abril “valeu a pena”, ainda que discordem de “milhentas coisas”.

Com uma opinião “esmagadoramente favorável” aos ideais de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que este é um trabalho “imperfeito e inacabado”, sendo que o mundo “mudou muito” e os desafios de hoje “são completamente diferentes”.

“A tarefa dos mais jovens é serem insatisfeitos, quererem muito mais e muito melhor”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa sobre as gerações mais novas.
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