"Epidemia de garimpo" ameaça comunidades indígenas na Amazónia

por RTP
Há décadas que esta atividade tem vindo a aumentar os níveis de poluição da Amazónia Bruno Kelly - Reuters

A exploração ilegal de ouro, diamantes e outras substâncias minerais na floresta da Amazónia, atividade conhecida por “garimpo” artesanal, foi considerada por agências ambientalistas como uma epidemia e está, cada vez mais, a afetar comunidades indígenas. Jair Bolsonaro, que já praticou esta atividade, pretende legalizá-la.

A Rede Amazónica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) produziu, pela primeira vez, um mapa onde surgem assinalados 2.312 lugares em seis países abrangidos pela floresta amazónica onde o garimpo foi posto em prática.

Já há décadas que esta atividade tem vindo a aumentar os níveis de poluição da Amazónia. Nas florestas são feitas clareiras, na terra são criados lagos de mineração e nos rios é despejado o mercúrio utilizado na extração de minerais, envenenando a água e os peixes.O mercúrio utilizado na extração de ouro está a afetar as populações indígenas que habitam perto das minas.

“Esta atividade ilegal provoca tantos problemas sociais como ambientais e esperamos que possam surgir ações coordenadas pelos países que sofrem com este impacto”, avançou Alicia Rolla, coordenadora adjunta da RAISG.

Jair Bolsonaro, Presidente eleito do Brasil, assumiu em 2017 ter praticado esta extração ilegal de ouro nos anos 1980 e ganhou o apoio dos mineiros artesanais conhecidos por “garimpeiros” desde que prometeu ajudá-los a trabalhar com “dignidade e segurança”.

O mapa agora divulgado contou com a participação de uma rede de agências ambientalistas não-governamentais de seis países abrangidos pela floresta: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Venezuela e Peru.

De acordo com as agências, em 37 dos casos o garimpo aconteceu em reservas indígenas protegidas, 18 das quais situadas no Brasil. Bolsonaro diz querer legalizar o garimpo nestas reservas.

Em 78 outros casos o garimpo realizou-se nos limites de áreas indígenas e, em 55 das situações reportadas, esta exploração ilegal aconteceu em reservas naturais.

“Existe uma epidemia de garimpo no Brasil”, declarou Nilo D’Avila, um dos diretores da organização Greenpeace Brasil. “Estamos a falar do impacto na biodiversidade e florestas, estamos a falar do uso de mercúrio e ainda do roubo da riqueza das populações indígenas”.

Para além de localizar os sítios afetados, o mapa fornece informações relativas aos materiais minados e aos períodos de extração, citando fontes que vão desde registos do Governo a imagens de satélite.
Tópicos
pub