Efeito de estufa no interior dos carros pode ser mortal

por Nuno Patrício - RTP
Uma criança pode morrer de calor ao fim de uma hora dentro do carro. Foto: Reuters

Quantos de nós já chegámos ao carro, no fim de uma horas de praia e ao entrar dentro deste sentimos como se estivéssemos a entrar para um forno? Foi precisamente a pensar neste “efeito de estufa” que a Universidade da Califórnia, em San Diego se debruçou, concluindo que uns graus a mais podem ser fatais para os seres humanos.

Jennifer Vanos, investigadora na Universidade da Califórnia, na área de Saúde Pública decidiu colocar em prática uma série de estudos térmicos depois das várias notícias que davam conta de, um pouco por todo o mundo, muitos adultos deixarem as crianças dentro das viaturas, ora por questões de segurança, ora por incúria e distração. Estatísticas apontam para que, em média, 37 crianças nos Estados Unidos morram de insolação dentro de veículos por ano, esquecidas pelos condutores.

Segundo a investigação, publicada no dia 23 de maio no jornal científico Taylor and Francis Online, os carros mesmo estando sob uma zona sombreada aquecem, devido à sua superfície metálica. E se os vidros estiverem fechados a velocidade da temperatura interior multiplica-se exponencialmente.

O problema agrava-se quando dentro das viaturas se deixa uma criança. De acordo com as análises térmicas realizadas dentro de carros estacionados, uma criança num veículo exposto ao sol alcançaria temperaturas corporais letais muito rapidamente.

Mas, quem pensa que num carro à sombra, este problema fica resolvido, que se desengane. Os investigadores da Universidade da Califórnia pegaram em seis viaturas, dois carros pequenos, dois familiares e duas carrinhas (tipo van) - três deles colocados ao sol e os outros à sombra.

Cada carro começou com a temperatura do ar exterior nos 38 graus celsius. Ao fim de uma hora, a temperatura ambiente média dentro dos veículos à sombra chegou aos 38,3 ° C. Mas nos carros ao sol a temperatura interna atingiu 46,7º C. Já os objetos internos do veiculo como os volantes, painéis e tampas de assento, esses estavam ainda mais quentes.O material no interior de um carro novo, à sombra e com as janelas fechadas,  pode libertar até 800 mg de benzeno (odor tóxico), podendo mesmo chegar a 4000 mg num dia de sol forte.

Os investigadores simularam então como reagiria o corpo de uma criança de dois anos sob essas condições, sabendo que, em média, o corpo de uma criança atinge a temperatura letal corporal aos 40 graus Celsius.

Segundo as análises, após 1,4 horas ao sol e cerca de 2,4 horas à sombra e variando sempre de acordo com o tamanho da viatura, uma criança deixada dentro de uma viatura ligeira pequena pode morrer de sobreaquecimento em apenas uma hora.

As estatísticas apontam para que, em média, 37 crianças nos Estados Unidos morram de insolação dentro de veículos em cada ano. Em mais da metade desses casos, as crianças simplesmente foram esquecidas dentro das viaturas.

A autora do estudo afirma que problemas como os acima descritos podem ser minimizados ou resolvidos através de alertas instalados no carro ou avisos realizados através de smartphones lembrando os condutores para verificar o banco de trás.

Aquecimento no interior dos veículos liberta gases tóxicos

Se é muito grave deixar uma criança fechada dentro de um veiculo exposto ou não ao sol, mais grave se torna quando está provado cientificamente que o material de que é feito o revestimento dos veículos, na grande maioria plásticos e fibras, liberta gases tóxicos quando aquecido.

O interior de um carro novo, na sombra e com as janelas fechadas, pode libertar até 800 mg de benzeno, podendo mesmo chegar a 4.000 mg num dia de sol forte.

O famoso “cheirinho de carro novo” é fruto de diversos solventes, adesivos, plásticos, tecidos e borrachas utilizadas no processo de fabricação do carro. O problema é que tudo isso liberta, sob a forma de vapores tóxicos, materiais tais como o benzeno, tolueno, acetona ou estireno.

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a exposição contínua a algumas destas substâncias pode provocar tonturas, reações alérgicas, dores de garganta, disfunção hormonal, danos ao fígado, rins e sistema nervoso central e, em casos extremos, cancro.

Apesar deste relatório não muito abonatório, a emissão destes produtos tende a diminuir com o envelhecimento do veículo, dependendo sempre dos materiais usados pelo fabricante, mas em geral nos carros populares (com plásticos mais baratos) a libertação de vapores nocivos é maior.

A solução primária é evitar estacionar o veículo ao sol e usar um protetor sobre o pára-brisas. Já agora, não usar a ventilação interna com os vidros fechados, abrir as portas por alguns minutos para que carro e condutor respirem em segurança.

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