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O parasita em caracóis e caranguejos que pode contaminar humanos

por Nuno Patrício - RTP
Os caracóis vivos são essenciais para a desenvolvimento dos vermes Facebook

De nome científico Angiostrongylus cantonensis, o parasita presente nos pulmões dos ratos pode ser contraído pelos seres humanos. Através dos caracóis.

A notícia não pretende ser alarmista, mas o certo é que há cerca de três mil registos de contaminação e a transmissão é feita através de caracóis, camarões de água doce (lagostins), sapos, caranguejos, lagartos ou centopeias. Os ratos infetados, transmissores, defecam as larvas de vermes, que por sua vez os moluscos podem apanhar e transmitir aos seres humanos, se ingeridos.

Foi precisamente pelo consumo de uma centopeia crua que uma mulher de 78 anos deu entrada num hospital de Guangzhou, na China, em novembro de 2012.

A mulher apresentava dores de cabeça, sonolência e rigidez no pescoço. Sintomas que sugeriam uma meningite.

Realizadas as primeiras análises, os médicos ficaram confusos, pois não havia nenhum sinal de bactéria ou vírus que pudesse causar a doença. Após uma nova bateria de análises, um teste do líquido cefalorraquidiano (presente no cérebro e na medula espinhal) revelou um elevado número de glóbulos brancos denominados eosinófilos. 

Larva Angiostrongylus cantonensis encontrada dentro de uma centopeia.  Ingerida, pode infetar humanos, migrar para o cérebro e causar meningite. Créditos: H. WANG ET AL/AM. J. TROP. MED. HYG. 2018

Tratava-se de uma indicação de que o sistema imunológico estava a lutar contra uma infeção parasitária. Sinal que ajudou os médicos a encontrar o culpado: um fino verme, de padrão encaracolado e de nome Angiostrongylus cantonensis.

Conclusão: a mulher sofria de doença dos vermes presentes nos pulmões dos ratos.
Moluscos, portadores perfeitos
Em que consiste a doença do verme do pulmão do rato? A doença que infeta os pulmões dos roedores tem este nome pela característica de os ovos dos vermes eclodirem nos pulmões de ratos. O verme precisa de caracóis para completar o ciclo de vida. No decorrer da cadeia alimentar, outros animais hospedeiros podem comer caracóis e infetar humanos.

Os ratos infetados, transmissores, defecam as larvas de vermes, que por sua vez os caracóis, lesmas, caranguejos e lagostins, entre outros, podem apanhar e transmitir aos seres humanos, se ingeridos.

Todavia, no caso da doente chinesa, esta não gostava de lesmas ou caracóis. Uma investigação mais minuciosa da dieta do casal revelou que tinham comido centopeias chinesas de cabelos vermelhos, compradas no mercado.

Ora a centopeia, na China, é consumida e utilizada normalmente através da medicina tradicional chinesa geralmente consumida em pó seco. De acordo com o neurologista do Hospital Zhujiang, em Guangzhou, Lingli Lu, o casal que deu entrada no hospital deu conta de que realmente tinham ingerido centopeia, comprada no mercado, mas crua.


A equipa liderada pelo neurologista Lu decidiu confirmar a possível origem da infeção e foi ao mercado em causa adquirir 20 centopeias. Descobriu larvas de A. Cantonensis, que poderiam infetar seres humanos, em sete das centopeias. As centopeias infetadas apresentavam em média 56 larvas cada.

Esta é a primeira evidência de que a ingestão de centopeias contaminadas com larvas de vermes pode transmitir a doença dos vermes pulmonares dos ratos, relatam os investigadores no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, datado de 30 de julho último.
Caracol é essencial
A descoberta chinesa contribuiu para a criação de uma lista - cada vez maior - de potenciais portadores e hospedeiros que podem transmitir o parasita a seres humanos.

O verme em causa precisa de caracóis para completar o ciclo de vida. No decorrer da cadeia alimentar, outros animais (hospedeiros paraténicos ou de transporte), podem comer caracóis e infetar humanos.

À luz dos casos registados de infeção humana, as pessoas contraem a doença pela ingestão de lagostins, sapos, caranguejos e lagartos-monitores (Ex: Dragão-de-Komodo). Uma vez dentro do corpo humano, os vermes migram para o cérebro, onde acabam por morrer.


Embora os sintomas apresentados durante a presença do verme no corpo possa ser superficial, a infeção pode causar estragos no sistema nervoso central, inflamação cerebral, paralisia e em casos extremos a morte. Por outro lado, os humanos infetados não podem transmitir a doença a outras pessoas.
Cozinhar antes de consumir
O verme do rato ainda é considerado raro. Até agora há registo de cerca de três mil casos em todo o mundo. Trata-se de “uma doença que regista maior presença nas regiões tropicais e subtropicais”, refere Heather Stockdale Walden, parasitologista da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade da Florida, em Gainesville.

Em Portugal não há aparentemente registo desta doença.

“As pessoas deveriam estar conscientes deste parasita”, diz Walden. Para advertir contra alarmismos: "Enquanto se cozinhar a comida, lavando-a previamente e muito bem, a probabilidade de infeção com o parasita é muito baixa".
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