A escravatura em Angola no séc. XVIII e XIX contada em documentário

por Diana Palma Duarte - RTP

A jornalista Catarina Demony, correspondente da Agência Reuters em Portugal, descobriu nos seus antepassados portugueses, pelo menos, cinco gerações de comerciantes de escravos em Angola. Alguns deles trabalhavam para a coroa portuguesa e tinham lugares de poder.

A investigação deu origem a um documentário que vai estrear em breve em Lisboa. Estão também previstas apresentações pelo país.

" Debaixo do Tapete" tem a realização e direção de fotografia do jornalista multimédia Carlos A. Costa e pretende levantar questões e temas pouco divulgados sobre o passado colonial português.

"O que estamos aqui a dizer é : aquilo que os meus antepassados fizeram tem uma linha direta com o racismo que existe em Portugal hoje em dia" , conta à RTP a jornalista.

Para além da família próxima representada pela a avó Lourdes Abreu, há entrevistas a historiadores, ativistas políticos como Mamadou Ba e testemunhos de outros portugueses com um passado familiar semelhante ao dela.

"Eu só descubro que a minha família esteve envolvida em tráfico transatlântico quando tinha 18 anos".

A autora deste documentário considerou ser importante reconstruir o mais surpreendente lado da sua história pessoal dando-o a conhecer a todos, sem vergonhas.

Recorrendo a documentos da Torre do Tombo e a especialistas em tráfico negreiro, o quebra-cabeças foi ganhando cada vez mais "luz" à medida que pedia ajuda a investigadores e recorria a uma base de dados norte-americana chamada " Slave Voyages".
Vanessa Oliveira, professora universitária de História Africana no Canadá, garantiu-lhe que a sua família é conhecida dos livros e que " o primeiro a chegar a Angola foi um senhor de nome Manuel , soldado, no Séc. XVIII, numa altura em que o tráfico se praticava há 200 anos".

"Uma das estratégias utilizadas por estes traficantes e comerciantes de pessoas escravizadas era envolverem-se de forma matrimonial com as elites negras locais para facilitar a proximidade com mais pessoas escravizadas. Há vários membros da minha família que também já são pessoas racializadas."

Para Catarina Demony, cujo nome Matozo da Câmara ascende da parte da mãe, não há dúvidas que os seus antepassados enriqueceram com um negócio que passou de geração em geração.
" Herdaram jóias, propriedades, terrenos agrícolas, frotas de navios negreiros e pessoas escravizadas".

Como é que algo tão importante escapou à família de Catarina?

Simplesmente porque os filhos se foram multiplicando dando origem a outras famílias paralelas ao longo dos século XIX e XX.
A jornalista sabe, no entanto, da existência de várias pessoas do seu sangue a viver em Luanda nos dias de hoje.
São tios e primos afastados que, contrariamente à sua avó Lourdes, não precisaram de saír da terra onde nasceram no pós 25 e Abril.

Tinha a mãe de Catarina 5 anos.




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