Díli, 25 jun 2019 (Lusa) - Seis bancos e duas cadeiras de madeira e dois bailarinos foram hoje suficientes para pôr em palco pela primeira vez, em Díli, a história de Pedro e Inês de Castro, num bailado presenciado por mais de 300 pessoas.
"Murmúrios de Pedro e Inês", uma obra que já visitou vários pontos de Portugal e do estrangeiro, chegou hoje ao palco mais longínquo até ao momento, em Timor-Leste, numa iniciativa da Fundação Oriente, do BNU e do Hotel Timor.
Solange Melo e Fernando Duarte, os dois bailarinos responsáveis pela direção artística (Duarte coreografou a peça de um só ato) interpretaram a obra na qual sobressaíram ainda os textos de Afonso Cruz, a música de Bernardo Sassetti e Fernando Lopes-Graça e o guarda-roupa de José António Tenente.
Um momento pouco usual no calendário cultural em Timor-Leste, onde manifestações artísticas deste tipo são ainda pouco comuns e que, por isso, suscitou um grande interesse entre timorenses, portugueses e residentes de Díli, de outras nacionalidades.
"Não é a primeira vez que interpretamos a obra fora de Portugal e até já o fizemos em países onde o português não é língua oficial, e é uma grande satisfação ver que o público percebe a história", referiu à Lusa.
Um aspeto, recordou Fernando Duarte, que demonstra o desafio que é, sem o texto, contar uma história de outra forma, pelo movimento e pela dança.
"Este é o grande desafio que, como artistas da dança e do bailado, queremos trazer para a frente: a dança privada do verbo e do texto, desse elemento fundamental para contar a história", explicou.
"É uma enorme satisfação propor outra forma de `storytelling` através da dança e que o público consiga perceber e não sinta falta desse tal verbo. O nosso verbo é o movimento", disse.
Outras das facetas da obra é a simplicidade, não sendo necessário um cenário elaborado ou sequer iluminação especial, bastando a coreografia, a música e os momentos de texto narrado para transmitir a intensidade da história.
"A simplicidade deixa a dança falar mais. O que queremos mesmo é que a dança fale mais [de Pedro e Inês] e de como eles viveram a história, que fale mais do que o que está à volta. E claro, as restrições orçamentais também pesam sempre", admite Solange Melo.
"A falta de recursos dá azo a grande criatividade", referiu.
Para Solange Melo a obra representa, acima de tudo, Portugal, pela "capacidade que o português tem de ser tão intenso", com uma história "louca, mas ao mesmo tempo linda".
"E tem uma coisa muito especial que é poder ter-se transformado num símbolo, o símbolo do amor, da história e da arte e acho que é isso que Pedro e Inês representam", disse.
Fernando Duarte diz que muitos colegas estrangeiros lhe diziam que a história daria um grande bailado, mais especial, "por se basear em factos reais".
"Isto só poderia de facto acontecer em Portugal. Um rei que coroa uma rainha morta e depois obriga a corte a beijar a mão esquelética", afirmou.
Os dois bailarinos oferecem na quarta-feira uma `aula` a crianças em Timor-Leste.