Charles Darwin nasceu há 200 anos para mudar a visão do Mundo

por Paulo Alexandre Amaral, RTP
Foi com a observação de pequenos animais que Darwin cultivou o seu interesse pelas questões evolucionistas Mário Cruz/LUSA

Por todo o Mundo são hoje celebrados os 200 anos do nascimento de Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução das Espécies. Depois da publicação da sua tese, agora com quase século e meio, nunca mais o Homem e a Vida foram olhados da mesma forma.

A publicação do livro em que Darwin sustenta a sua tese (1859) alterou de forma radical a forma como o Mundo passaria a ser encarado pelo homem, em termos científicos, filosóficos e religiosos.

A tese de Charles Darwin acabaria por encontrar muitas resistências na sociedade da época, uma vez que o texto expurgava o divino e a ideia bíblica do centro da criação do Homem.

Incompreendido pela sociedade da altura, a teoria de Darwin seria confirmada pelas gerações vindouras de cientistas.

As ideias do naturalista britânico são hoje consensuais em quase todo o Mundo, mas voltam a encontrar nova onda de inimigos que, em pleno século XXI, ganham fôlego para empunhar as bandeiras do criacionismo, particularmente nos Estados Unidos.

Para os sectores mais conservadores, século e meio depois, Charles Darwin continua a ser um alvo a abater, particularmente por defender que o Homem tem no macaco um parente afastado e do qual evoluiu para a sua "forma" moderna.

Uma viagem para virar o Mundo

Nascido a 12 de Fevereiro de 1809 no seio de uma família abastada que pertencia à elite cultural da época, Charles Darwin procura seguir as pisadas do pai na Medicina.

Desistindo desse primeiro projecto por considerar a cirurgia uma prática muito violenta, ensaia ainda o caminho da Teologia e da via religiosa, chegando a concluir os estudos para prosseguir a vida clerical.

No entanto, a sua vocação, que se antevia desde muito jovem com a observação da vida animal, seria cimentada a bordo do Beagle, navio que durante cinco anos explora o planeta numa expedição que estaria na origem da alteração da maneira como se passaria a olhar o Homem e o Mundo.

Integrando a expedição como naturalista a conselho de um professor de Cambridge, Darwin deixou o Reino Unido em Dezembro de 1831 e durante cinco anos juntou fósseis, amostras geológicas e observou espécies vegetais e animais.

No final da viagem, quando regressa a Inglaterra, a visão sobre o Mundo e a evolução das espécies era diferente.

É por isso que Darwin prossegue as suas observações e estudos quase envolvido em secretismo. As novas ideias ideias evolucionistas entravam em choque com a visão bíblica da criação, muito pela ideia defendida por Darwin de que o macaco era um parente afastado do Homem.

Muitos anos depois, publica o livro "A Origem das Espécies", o que dividiu opiniões e o tornou um alvo preferencial da crítica, mesmo entre os seus pares.

Graças a um forte espírito científico, Charles Darwin prosseguiu contudo com as investigações sobre a origem e evolução das espécies até ao fim da vida.

Teoria da Evolução das Espécies

Em 1859, Charles Darwin publicou o seu livro sobre a teoria da evolução das espécies "Sobre a origem das espécies através da selecção natural ou a preservação de raças favorecidas na luta pela vida" (tradução do original "On the Origin of Species by Means of Natural Selection or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life").

O processo de evolução proposto por Darwin assenta na ideia de selecção natural e é ainda hoje aceite como válido pela comunidade científica. Em termos de sistema teórico é aquele que, passados quase 150 anos da sua publicação, melhor explica a adaptação e especialização dos seres vivos aos seus meios ambientes.

A selecção natural tem como conceito básico o facto de características favoráveis hereditárias se tornarem comuns aos seres das gerações futuras de dada população de organismos, sendo que as características desfavoráveis tendem a desaparecer nesses seres.

A selecção natural evidenciada por Darwin age dessa forma no fenótipo (características que se podem ver e traduzem o genótipo, a composição genética relativamente a essas características) dos organismos, sendo que indivíduos com fenótipos favoráveis têm mais probabilidade de sobreviver e reproduzir do que aqueles com fenótipos menos favoráveis.

Dessa forma, os genótipos associados aos fenótipos favoráveis aparecerão mais frequentemente na geração seguinte, pelo que, ao longo do tempo, o processo resulta em adaptações que especializarão organismos em sistemas ecológicos particulares.

As características acabam por ser preservadas devido à vantagem selectiva que conferem aos indivíduos que as possuem, permitindo que esses indivíduos tenham mais descendentes que os indivíduos sem essas características e portanto menos aptos.

Portugal lembra Charles Darwin

O nascimento do biólogo britânico é assinalado pelo Jardim Zoológico de Lisboa com "A evolução de Darwin", exposição que inclui a primeira reconstituição tridimensional do cientista enquanto jovem a observar um insecto (foto do artigo).

A exposição, que pode ser vista na Fundação Calouste Gulbenkian, inclui ainda "o escritório de Darwin" e a reconstituição da viagem a bordo do Beagle, elementos pertencentes ao Museu Americano de História.

No espaço do Jardim Zoológico decorre o programa educativo "Ao encontro de Darwin", com os alunos de escolas de todo o país convidados a "seguir as indicações deixadas por Darwin sob forma de cartas, ao longo de um percurso exploratório (em que) poderão observar ao vivo algumas das espécies que levaram o cientista a questionar a diversidade biológica do planeta".

O Jardim Zoológico contribui para esta mostra histórica com vários animais: a tartaruga-terrestre, a piranha, a suricata, a anaconda, a chuckwalla (da família das iguanas) e o mico-leão-dourado. De acordo com o Zoológico é assim deixada a mensagem para "a importância da preservação de muitas destas espécies, cada vez mais ameaçadas pelo próprio Homem".
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