Cine Atlântico arranca na Terceira com sessão esgotada de "Variações"

por Lusa

A quarta edição da mostra de cinema português contemporâneo Cine Atlântico arranca esta quinta-feira, em Angra do Heroísmo, nos Açores, tendo esgotado pela primeira vez os bilhetes para uma sessão, com o filme "Variações", de João Maia.

"É o filme português mais visto este ano e isso também ocorre na ilha Terceira. O Cine-Clube da Ilha Terceira já tem a bilheteira para este filme, a partir de reservas, totalmente esgotada. Estamos, neste momento, a negociar com a NOS, distribuidora deste filme, a hipótese de promovermos uma segunda sessão", adiantou, em declarações à Lusa, o presidente do cine-clube, Jorge Paulus Bruno.

Ao longo de quatro dias, serão exibidos na Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio dos Artistas, em Angra do Heroísmo, oito filmes portugueses, estreados em 2019, de estilos muito diversos.

"Permite abranger um leque mais variado de público. Não são só filmes de autor, mais introspetivos, destinados apenas a cine-clubistas, mas que abrangem um espetro maior de público", salientou o responsável pela organização.

Há quatro anos, o Cine-clube da Ilha Terceira tentou angariar fundos para organizar nos Açores um festival internacional com competição sobre mar, ilhas, viagens e aventuras, mas como não o conseguiu decidiu avançar com uma mostra de cinema português contemporâneo, em Angra do Heroísmo, para recuperar o interesse pela produção nacional.

Prestes a inaugurar a quarta edição, Jorge Paulus Bruno considerou que a insistência nos filmes portugueses tem dado frutos e já conseguiu despertar a atenção do público da ilha Terceira.

"Essa adesão, que já está a começar, do público terceirense ao cinema português, também decorre dessa insistência que o Cine-Clube da Ilha Terceira tem vindo a fazer, que entendeu que era também uma missão sua, de trazer aqui à ilha Terceira o melhor que se está a fazer a nível nacional", salientou.

O Cine Atlântico arranca esta quinta-feira, com o filme biográfico sobre o cantor António Variações, interpretado no grande ecrã por Sérgio Praia, seguindo-se, na sexta-feira, uma homenagem a Agustina Bessa-Luís, com a exibição do filme "A Portuguesa", de Rita Azevedo Gomes, que contou com diálogos da escritora, e uma conferência sobre a ligação de Agustina ao cinema, por Carlos Natálio.

"Agustina Bessa-Luís escreveu textos para vários filmes, desde logo para Manoel de Oliveira [`Fanny Owen`/`Francisca`, `As Terras do Risco`/`O Convento`, `Vale Abraão`, `Party`, `Visita ou Memórias e Confissões`]. Havia uma cumplicidade entre o realizador e a escritora. A exibição d``A Portuguesa` foi uma forma que o Cine-clube da Ilha Terceira encontrou para homenagear essa grande figura da literatura portuguesa recentemente falecida", apontou Jorge Paulus Bruno.

No sábado, passam pela sala de cinema da Recreio dos Artistas os filmes "Mar", de Margarida Gil, que retrata o drama dos refugiados e é protagonizado por Maria de Medeiros, "Diamantino", de Gabriel Abrantes e Daniel Shmidt, que venceu o grande prémio da semana da crítica do Festival de Cinema de Cannes, e "Snu", de Patrícia Sequeira, sobre a história de amor entre Snu Abecassis e o fundador do PPD/PSD, Francisco Sá Carneiro.

A mostra de cinema português contemporâneo termina no domingo com "Linhas Tortas", primeira longa-metragem de Rita Nunes, e "Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos", filme de João Salaviza e Renée Nader Messora, sobre os indígenas brasileiros krahô, que se estreou no Festival de Cannes, no ano passado.

A encerrar o Cine Atlântico será exibida a longa-metragem "A Herdade", de Tiago Guedes, candidato português a uma nomeação para o óscar de melhor filme estrangeiro em 2020 e vencedor do prémio Bisato d`Oro para melhor realização, atribuído por um júri da crítica independente, no Festival de Cinema de Veneza, onde teve estreia mundial.

A programação ficou a cargo do crítico e realizador de cinema José Vieira Mendes e marcarão presença na ilha Terceira João Maia, realizador de "Variações", e Paulo Branco, produtor de "A Herdade".

"É importante dar a conhecer a quem vem de fora o que é a nossa realidade, a nossa ilha, a nossa cidade, quais são as motivações cinematográficas do público terceirense e, por outro lado, para quem é da ilha Terceira e vai aos filmes, é uma oportunidade de conversar com eles antes, depois das sessões. É sempre importante vermos por detrás daquilo que está no ecrã quem é o homem ou mulher que realiza e produz", frisou Jorge Paulus Bruno.

O Cine-clube da Ilha Terceira promete retomar a mostra de cinema português no próximo ano, mas ainda não desistiu de estender o Cine Atlântico a um festival internacional com competição.

"Numa região arquipelágica como esta, de pequenas ilhas rodeadas por mar, fará todo o sentido fazer um festival internacional sobre esses temas: o mar, as ilhas, as viagens, que são uma dominante na vida de um açoriano, e as aventuras, que não ocorrem só nestes contextos arquipelágicos, mas que acontecem necessariamente também aqui", sustentou o presidente do cine-clube.

 

 

Tópicos
pub